terça-feira, 5 de junho de 2012


 A Santíssima Trindade

Primeiramente, cabe contar uma pequena história que nos ajudará a entender a posterior explicação.
Conta-se que Santo Agostinho andava em uma praia meditando sobre o mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas…
Enquanto caminhava, observou um menino que portava uma pequena tigela com água. A criança ia até o mar, trazia a água e derramava dentro de um pequeno buraco que havia feito.
Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia.
O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -”estou querendo colocar a água do mar neste buraco“.
Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe: -”mas você não percebe que é impossível?”.
Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe: “ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!“. E continuou: “Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria. Assim sucede com os mistérios da religião: quem pretende compreendê-los deslumbra-se e quem se obstinasse em os perscrutar perderia totalmente a fé” (Sto. Agost).
Só poderíamos compreender perfeitamente a Santíssima Trindade se nós fossemos ‘deus’. Podemos, contudo, por meio da razão iluminada pela fé, chegar a um conhecimento muito útil dos mistérios, considerando certas analogias da natureza. Citemos algumas: o raio branco de luz, sendo apenas um, pode ser decomposto em vermelho, amarelo e azul; a ametista brilha de três cores diferentes, segundo o lado em que se observa: é purpúrea, violeta e rósea, sem ser mais do que uma pedra. O fogo queima, ilumina e aquece, sendo apenas fogo, etc.
Bem, a Santíssima Trindade é superior à capacidade humana de entendimento, mas não contraria a razão. Dizer que existe “um Deus em três pessoas” é superior à capacidade de compreensão humana, mas não é o mesmo que dizer que é “um Deus em três deuses“, que seria contrariar a razão humana.
Ou seja, o mistério é conhecido, mas não é compreendido em sua totalidade.
Sabendo disso, a Igreja aconselha muita cautela na busca de conhecer certos mistérios superiores à nossa compreensão, conforme ensina o Catecismo Romano, transcrevendo a Bíblia: “Quem quer sondar a majestade, será oprimido pelo peso de sua glória” (Prov. 25, 27).



O Conhecimento através da Revelação
Portanto, a Santíssima Trindade só é conhecida através da Revelação, através das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que era Deus e Homem verdadeiro.
Disse Nosso Senhor: “Ensinai todas as gentes, e batizai-as em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Na sua última prece, o Salvador pede que seus discípulos sejam um como seu Pai e Ele não são mais que um (S. Jo., 17, 21). Também afirma: “Meu Pai e eu somos um” (Jo., 10, 30), deixando clara a unidade de natureza entre o Pai e o Filho.
Em diversas passagens, os apóstolos reconhecem Nosso Senhor como “Filho de Deus“, que prometeu enviar o “Espírito Santo” sobre eles, que ressuscitou dos mortos ao terceiro dia pelo seu próprio poder, etc.
Na promessa de enviar o Espírito Santo, Nosso Senhor, antes de se elevar ao Céu, anunciou aos Apóstolos que o Pai lhes enviará o Espírito Santo, que os ensinaria e os fortaleceria na fé: “Rogarei a meu Pai e Ele vos mandará outro consolador” (Jo 14, 16, 26), “o espírito da verdade” que “vos ensinará tudo” (Jo, 14, 26). Ora, como não há ninguém senão Deus (a verdade), capaz de ensinar tudo, resulta dessas palavras que tal consolador é Deus, como o Pai e o o Filho que hão de mandá-lo. S. Pedro repreende Ananias que procurou iludir o Espírito Santo, e acusa-o de ter assim mentido a “Deus”, não aos homens (Act. 4, 5, 11) Na mesma passagem sobre o Espírito Santo, fica claro que as pessoas são distintas: O Pai que envia, o Filho que roga ao Pai, o Espírito Santo que será enviado.
Em II Cor, 13, 13 está escrito: “Estejam com todos vós a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo“!.
No “batismo” de Nosso Senhor, ao sair da água, os céus se abriram e o “Espírito, como uma pomba“, desceu sobre Nosso Senhor e uma voz “veio dos Céus: “Tu és o meu filho amado, em ti me comprazo“.
Em São Mateus, lemos: “Só o Pai conhece o Filho e o Filho conhece o Pai“(Mt 11, 27; Lc. 10, 22). Em S. João, está que o Espírito Santo “procede do Pai“, que é “enviado pelo Filho” (Jo 15, 26; 16, 7).
Respondendo a Felipe, que lhe havia pedido para ver o Pai: “Filipe, quem me viu, viu também o Pai. Como é que dizes: Mostra-nos o Pai? Então não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim” (Jo, 14, 9 e 10).
O mesmo que Jesus Cristo explica da sua união com o Pai, afirma-o igualmente do Espírito Santo. “Quando tiver vindo o Consolador que eu vos mandarei de junto de meu Pai, o Espírito de verdade que procede do Pai, Ele dará testemunho de mim” (Jo, 15, 26). Ora, o que procede de Deus tem, forçosamente, natureza idêntica à de Deus.
Dessa forma, fica clara a distinção de três pessoas em um só Deus, ou seja, três pessoas de mesma natureza, poder e glória.
Já no Antigo Testamento a Trindade estava implícita. Citemos algumas passagens: Os sacerdotes judeus deviam, ao abençoar o povo, invocar três vezes o nome de Deus (Num. 6, 23). Isaías diz-nos (6, 3) que os Serafins cantam nos céus: Santo, santo, santo é o Deus dos exércitos. Notemos sobretudo o estranho plural empregado por Deus na criação do homem: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança“(Gen. 1, 26). No momento da confusão de Babel: “Vinde, diz o Senhor, confundamos a sua linguagem” (Gen. 11, 7). Por que esse plural? Já, depois da culpa de Adão, o mesmo livro sagrado representa Deus dizendo ironicamente: “Portanto eis Adão que se tornou com um de nós, vamos agora impedir-lhe que levante a mão à árvore da vida”(Gen. 3, 22). E David escrevia no Salmo CIX: “Disse o Senhor ao meu Senhor: assenta-te à minha direita“.
Encontram-se, no Antigo Testamento, duas expressões para designar a divindade: uma é “Jehováh“, outra é “Eloim“. Pelo parecer de todos os hebraizantes, a primeira se aplica ao mesmo ser de Deus, à sua suprema essência: está sempre no singular. A segunda exprime a idéia da presença de Deus e do seu poder: vem sempre no plural e significa “os deuses”; mas, o que não deixa de surpreender é que esta palavra sempre no plural, rege sempre no singular o verbo que a segue. Assim o primeiro versículo da Bíblia traduzir-se-ia literalmente: “No princípio, “os deuses” fez o céu e a terra“. Os sábios não duvidam em ver, nesta palavra “Eloim” e no modo de se usar dela, uma expressão que deixa entender a existência de várias pessoas em Deus.
Na Tradição da Igreja encontramos várias provas da Santíssima Trindade.
a) Testemunho dos Mártires. Era para confessar a sua fé na divindade das três pessoas e particularmente em Nosso Senhor, que numerosos mártires sofriam os suplícios mais cruéis. Assim, para citarmos um exemplo apenas, S. Policarpo (166), discípulo de S. João, exclamava em frente da fogueira acesa: “Eu vos glorifico em todas as coisas, a vós, ó meu Deus, com vosso eterno e divino Filho, Jesus Cristo, a quem, com o Espírito Santo, seja honra, agora e para sempre“.
b) Testemunho dos Padres da Igreja. Nos escritos de certos Padres, encontram-se testemunhos valiosíssimos desta nossa crença. Santo Inácio de Antioquia fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo como sendo três pessoas às quais devemos respeito igual. Santo Irineu diz que “a Igreja, espalhada pelos Apóstolos até os confins do universo, crê em Deus Pai todo-poderoso, em Jesus Cristo, seu Filho, encarnado por nossa salvação e no Espírito Santo que falou pelos profetas“. Claríssimas são, também, na sua conclusão, as palavras de Tertuliano: “O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito-Santo é Deus e Deus é cada um deles“.
c) Prática da Igreja. De acordo com sua crença, a Igreja sempre administrou o batismo em nome das três pessoas. Ocupa o primeiro lugar na liturgia, o mistério da Santíssima Trindade. Dela fazem menção todas as bênçãos, todas as orações, todas as cerimônias, quer por meio do sinal da cruz, quer pela dexologia: “Glória ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo“.
Ademais, sem a divindade de Nosso Senhor, não haveria a redenção, que consiste na crucifixão e morte de Nosso Senhor sobre a Cruz. Se Cristo não fosse Deus, o “pecado original” e os nossos “pecados atuais” não poderiam ter sido remidos, visto terem um valor infinito (pois foram praticados contra Deus, que é infinito) e precisarem de um ser infinito para os expiar.

As três pessoas da Santíssima Trindade é um só Deus em Três Pessoas distintas.  O Pai, o Filho e o Espírito Santo, possuem a mesma natureza divina, a mesma grandeza, bondade e santidade.  Apesar disso, através da história, a Igreja tem observado que certas atividades são mais apropriadas a uma pessoa que a outra. A Criação do mundo é mais apropriada ao Pai, a redenção ao Filho e  a Santificação, ao Espírito Santo.  Nenhuma das Três pessoas Trinitárias exerce mais ou menos poder sobre as outras. Cada uma delas  tem toda a divindade, todo poder e toda a sabedoria. E justamente, nesta breve dissertação,  constatamos a profundidade do mistério da Santíssima Trindade, ante a complexidade em assimilar a magnitude de Três pessoas distintas formando um só Deus.  Trata-se, portanto, de um grande mistério, central da fé cristã.  As Escrituras são claras a respeito da Santíssima Tindade, desde o antigo, até o novo Testamento. 
                                    A festa da Santíssima Trindade é um dos dias  mais importantes do ano litúrgico. Nós, como cristãos a celebramos convictos pelos ensinamentos da Igreja, que possui a plenitude das verdades reveladas por Cristo. É dogma de fé estabelecido,  a essência de um só Deus em Três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. É um mistério de difícil interpretação, impossível, de ser assimilado pelas limitações humanas.  
                                    Há séculos a Santa Igreja ensina o mistério de Três Pessoas em um só Deus, baseada nas claras e explícitas citações bíblicas.  Mas desaconselha a investigação no sentido de decifrar tão grande mistério, dada a complexidade natural que avança e se eleva para as coisas sobrenaturais. 
                                    Santo Agostinho de Hipona, grande teólogo e doutor da Igreja,  tentou exaustivamente compreender este inefável mistério.  Certa vez, passeava ele pela praia,  completamente compenetrado, pediu a Deus luz para que pudesse desvendar o enigma.  Até que deparou-se com uma criança brincando na areia. Fazia ela um trajeto curto, mas repetitivo.  Corria com um copo na mão até um pequeno buraco feito na areia, e ali despejava a água do mar;  sucessivamente voltava,  enchia o copo e o despejava novamente. Curioso, perguntou à criança o que ela pretendia fazer.  A criança lhe disse que queria colocar toda a água do mar dentro daquele buraquinho.  No que o Santo lhe explicou ser impossível realizar o intento. Aí  a criança lhe disse: “É muito mais fácil o oceano  todo ser transferido para este buraco, do que compreender-se o mistério da Santíssima Trindade”. E a criança, que era um anjo, desapareceu... 
                                    Santo Agostinho concluiu que a mente humana é extremante limitada para poder assimilar a dimensão de Deus e, por mais que se esforce, jamais poderá entender esta grandeza por suas próprias forças ou por seu raciocínio. Só o compreenderemos plenamente, na eternidade, quando nos encontrarmos no céu com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
                                    Ao participarmos da Santa Missa observamos  que, desde o início, quando nos benzemos, até o momento da bênção trinitária final,  constantemente o sacerdote invoca a Santíssima Trindade, particularmente durante a pregação eucarística.   As orações que o padre pronuncia após a consagração, que por certo são dignas de serem ouvidas com atenção e recolhimento, são dirigidas a Deus Pai, por mediação de Jesus Cristo, em unidade com o Espírito Santo. E é na missa onde o cristão logra vislumbrar, pela graça do Espírito Santo, o mistério da Santíssima Trindade.  Devemos, neste momento,  invocar a Deus Trino, que aumente nossa fé, porque sem ela, será impossível crer neste mistério, mistério de fé no sentido estrito. Mesmo sem conseguir penetrar na sua essência o cristão deverá, simplesmente, crer nele. 
                                    O mistério da  Santíssima Trindade é uma das maiores  revelações feita por Nosso Senhor Jesus Cristo.  Os judeus adoram a unicidade de Deus e desconhecem  a  pluralidade de pessoas e a sua unidade substancial.  Os demais povos adoram a multiplicidade de deuses.  O cristianismo é a única religião que, por revelação de Jesus,  prega ser Deus uno em três pessoas  distintas: 
                                    DEUS PAI Não foi criado e nem gerado. É o “princípio e o fim, princípio sem princípio”;  por si só, é Princípio de Vida, de quem tudo procede;  possui absoluta comunhão com o Filho e com o Espírito Santo.  Atribui-se ao Pai a Criação do mundo. 
                                    DEUS FILHO Procede eternamente do Pai, por quem foi gerado, não criado. Gerado pelo Pai porque assumiu no tempo Sua natureza humana, para nossa Salvação. É Ele Eterno e consubstancial ao Pai (da mesma natureza e substância). Atribui-se ao Filho a Redenção do Mundo.   
                                    DEUS ESPÍRITO SANTO Procede do Pai e do Filho; é como uma expiração, sopro de amor consubstancial entre o Pai e o Filho;  pode-se dizer que Deus em sua vida íntima é amor, que se personaliza no Espírito Santo. Manifestou-se primeiramente no Batismo e na Transfiguração de Jesus;  depois no dia de Pentecostes sobre os discípulos. Habita nos corações dos fiéis com o dom da caridade. Atribui-se ao Espírito Santo a Santificação do mundo.
                                    O Pai é pura Paternidade,  o filho é pura Filiação e o Espírito Santo, puro nexo de Amor. São relações subsistentes, que em virtude de  seu impulso vital, saem um ao encontro do outro em perfeita comunhão, onde a  totalidade da Pessoa está aberta à outra distintamente. Este é o paradigma supremo da sinceridade e liberdade espiritual a que devem ter as relações interpessoais humanas, num perfeito modelo transcendente, só assim, compreensível ao entendimento humano.  É desta forma que devemos conhecer a mensagem a Santíssima Trindade, mesmo sem alcançar os segredos do seu mistério.  Desta maneira, devemos nos comprometer a  adquirir certas atitudes nas nossas relações humanas.  A Igreja nos convida a “glorificar a Santíssima Trindade”, como manifestação da celebração. Não há melhor forma de fazê-lo, senão revisando as  relações com nossos irmãos, para melhorá-las e assim viver a  unidade querida por Jesus: “Que todos sejam um”.