Carisma da Profecia
1. Introdução
O carisma da profecia é um dos meios que o Senhor tem para comunicar-se com o seu povo, encorajando, exortando, instruindo, dando novo rumo ao trabalho apostólico, indicando a direção certa e levando à conversão, enfim, manifestando sua santa vontade em tudo (cf. 1 Cor 14, 13)
Deus sempre quer falar, mas nem sempre o seu povo está pronto para escutá-lo. Quando o faz e, em seguida, Lhe obedece, faz a coisa certa, na hora certa, do jeito certo. Quando faz por sua própria conta, por sua vontade, algumas vezes acerta, mas na maioria delas erra, sofre ou fracassa. É necessário ouvir o Senhor sempre (cf. Dt 6, 4).
Que maravilha poder ouvir a Deus e por ele ser orientado. Que povo há, com efeito, que tenha seu Deus tão próximo de si cada vez que o invoca com sinceridade (cf. Dt 4,7)?
2. Conceito
“A profecia é um carisma em virtude do qual o inspirado, em nome de Deus, é movido pelo Espírito, fala à assembléia para exortá-la, estimulá-la ou corrigi-la. É um carisma que contribui muito para edificar a Igreja. Não comunica revelações sensacionais, mas é uma palavra inspirada que manifesta a vontade de Deus em circunstâncias do momento e manifesta os sentimentos ocultos do coração. A palavra profética geralmente suscita fortemente um movimento de conversão, de agradecimento ao Senhor por suas intervenções de amor, um sentimento de paz. Ocasionalmente o profeta recebe uma luz particular predizendo o futuro (cf. 1Cor 14,3-4.24-25)”
Por vezes, confirma-se na profecia o que já se está fazendo, encorajando a continuar. “Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: não temas! Fala e não te cales. Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade” (At 18, 9-10). Ela pode também prever uma missão para a Igreja dentro de algum tempo: “Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado” (At 13,2).
São Paulo aconselha a aspirar aos dons "mas, sobretudo, ao dom de profecia" (cf. 1 Cor 14, 1); e explica a importância deste dom: "Quem profetiza fala aos homens para edificá-los, exortá-los e consolá-los" (1 Cor 14,3 ). O dom de profecia “edifica a assembléia" (cf. 1 Cor 14, 4); por isso, o apóstolo manifesta seu desejo: "Ora, desejo que todos faleis em línguas, porém, muito mais desejo que profetizeis" (1 Cor 14, 5). Este dom "instrui também os outros (ouvintes)" (cf. 1 Cor 14, 19), e é um sinal "para os fiéis" (cf. 1 Cor 14, 22), quanto para os infiéis, sendo para estes motivo de adoração e proclamação da presença de Deus em meio à comunidade (cf. 14, 24-25).
É desejo ardente do apóstolo que na comunidade se manifeste este dom do Espírito: “Não desprezeis as profecias” (1 Tess 5, 20). "Aquele que tem o dom da profecia, exerça-o conforme a fé” (Rm 12, 6), pois, segundo a medida do dom de Cristo, alguns foram constituídos profetas para o aperfeiçoamento dos cristãos (cf. Ef 4,7-12).
A profecia pode trazer uma sugestão sobre algo que deve ser mudado; pode trazer uma confirmação do amor de Deus, do seu poder, um sentido profundo de sua presença. A profecia é um dom que todos podem ter: "Todos, um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e serem todos exortados" (1 Cor 14, 31).
Em Números 11,29 lê-se: "Prouvera a Deus que todos profetizassem e que o Senhor lhes desse o seu Espírito". Ora, o profeta Joel predissera que o Senhor iria derramar o seu Espírito sobre todo o ser vivo: tal profecia, no Novo Testamento, é lembrada pelo apóstolo Pedro, logo no dia de Pentecostes, como "cumprimento do que foi dito pelo profeta Joel” (cf. At 2, 16-21). Assim, a profecia é uma conseqüência do derramamento do Espírito Santo na Igreja, pois quem tem o Espírito do Senhor e se deixa conduzir por Ele, torna-se um instrumento apto do Senhor para profetizar na assembléia.
3. O exercício do dom de profecia
O dom de profecia é a faculdade de acolher no íntimo (pensamento) e transmitir em palavras inteligíveis, as revelações de Deus. Está no campo das revelações particulares e, como tal, não pode contradizer o que foi revelado através da Bíblia e da Tradição e que é explicado pelo Magistério da Igreja (revelação pública).
A manifestação da profecia deve ser com "dignidade e ordem" (cf. 1 Cor 14, 40), e com um critério de julgamento sobre a mesma (cf. 14, 29), pois, "Deus não é Deus de confusão, mas de paz" (1 Cor 14, 33).
Assim sendo, o exercício da profecia acontece quando o profeta fala sob a influência sobrenatural do Espírito, abrindo o seu ser para isso, transformando-se em “porta-voz” de Deus, para a verbalização de Suas palavras.
A profecia não se refere necessariamente ao futuro, muito embora isso tenha sido o caso em algumas ocasiões, como evidencia a Bíblia. Pela profecia, Deus utiliza-se de alguém para dizer aos homens o que Ele pensa sobre a situação presente, ou qual é a Sua intenção para o futuro. Numa reunião de oração, a profecia tem o efeito de aprofundar o senso da presença de Deus. É um meio eficaz de o povo ser conduzido por Deus. Neste sentido, o profeta transmite o pensamento de Deus para que se possa agir segundo esse pensamento. E essa transmissão vem de Deus e não da mente daquele que fala.
O profeta fala sob inspiração divina, sob ação divina, sendo instrumento ativo desta inspiração e comunicação; o que importa é a mensagem, e não tanto o transmissor da mensagem. É preciso ter cuidado para não se deixar levar pela fraqueza humana, não aceitando uma profecia divina porque esta veio por este ou aquele membro da comunidade.
O Espírito Santo é livre para que haja profecia onde, como e quando Ele quiser; nas reuniões de oração, normalmente, há uma certa seqüência em relação à profecia, como segue: oração, louvor (cânticos ou preces), oração e cântico em línguas seguidos de breve tempo de silêncio. Assim se cria o clima favorável para a manifestação do carisma da profecia, que deve ser desejado por todos (cf. 1 Cor 14, 1). Após acolher a profecia, a comunidade louva e exulta de alegria pela palavra que o Senhor deu. É importante que haja confirmação da profecia.
3.1. A acolhida da profecia
Ninguém profetiza sem o consentimento da vontade, mas acolhe as palavras de Deus, em sua mente e, se não as pronunciar por medo, insegurança ou respeito humano, deixa de profetizar. Deus não violenta, não força a mente humana contra a sua vontade e consentimento; serve-se sim, de suas faculdades, de maneira que a pessoa é usada por Ele.
É o Senhor quem escolhe, chama e capacita o profeta (cf. Ef 4, 11). É Ele que suscita o desejo de profetizar, vai derrubando as barreiras que impedem a entrega plena do ser da pessoa ao seu Espírito, embora respeite o seu livre-arbítrio, sua liberdade. A profecia é geralmente precedida pela unção, que é um ‘senso da presença do Senhor’, um movimento no íntimo do espírito, é um impulso para anunciar a mensagem de Deus; com freqüência, a unção é a chave que permite saber que o Senhor quer falar.
Assim sendo, são combinadas a ação do Espírito e a adesão da pessoa. O Espírito unge o profeta, às vezes com sinais sensíveis e inspira-lhe as palavras a serem ditas. A pessoa deve entregar-se a Deus, acolher as palavras no íntimo e pronunciá-las destemidamente. O profeta não precisa mudar a voz ou imprimir uma tonalidade discursiva, mas apenas pronunciar o que lhe é revelado na sua própria maneira de falar. Nesse sentido, Deus se utiliza da cultura e do vocabulário da pessoa.
O essencial para acolher a profecia e proclamá-la é crer que Deus quer falar naquele momento e dispor-se a ser seu instrumento. A pessoa recebe em sua mente uma palavra ou frase e, à medida que as pronuncia, outras se seguirão. Também pode acontecer de ser dada primeiro em pensamento ou por meio de uma imagem.
Qualquer que seja a forma de receber a profecia, a pessoa deve dar um passo na fé para pronunciá-la, sem se deixar impregnar por dúvidas e inseguranças. Por vezes, a pessoa se acostuma a ficar esperando pelos que mais costumeiramente profetizam. Os que agem assim, dificilmente serão usados com o dom da profecia. Para ouvir o Senhor, é necessário um ato de entrega ao Senhor e não apenas de passividade.
O profeta deve manter uma expectativa de escuta. A escuta é a capacidade dada pelo Espírito Santo para ouvir a voz de Deus no coração e discernir, dentre todas as vozes que chegam, qual é a de Deus (cf. Jo 12,27-29).
A oração do discípulo de Jesus é mais do que falar no vazio, ler no vácuo, sofrer na solidão, contemplar um túnel sem fim. A oração do discípulo de Jesus Cristo ressuscitado é muito mais do que tatear na escuridão. Ela não é tampouco um salto no abismo. O discípulo de Jesus foi elevado à posição de amigo do Mestre (cf. Jo 15,14). Sendo amigo de uma das Pessoas da Santíssima Trindade, goza, automaticamente, da amizade das outras. Por isso sua oração é, antes de tudo, aproximar-se de Deus (cf. Hb 11, 6), é um inclinar de ouvido na direção dos lábios da Trindade Santíssima (cf. Is 50,4b-5) para saborear o seu canto de amor.
3.2. O ciclo carismático
Nas reuniões de oração, cria-se assim o que é denominado "ciclo carismático", composto de louvor, oração e profecia. A assembléia se dirige a Deus pela oração, que é o diálogo com o Senhor; Ele responde pela profecia, usando as mentes e vontades daqueles que se rendem a Ele para edificar a comunidade.
No ciclo carismático, encontram-se assim estes elementos: oração, louvor (cânticos ou preces), orações em línguas, seguido de breve tempo de silêncio, unção (que geralmente precede a profecia), profecia, após a qual a comunidade louva e exulta de alegria pela palavra que o Senhor lhe dirigiu. Na medida em que a comunidade se habitua com o ciclo carismático, torna-se mais aberta ao Senhor e ao cumprimento de sua vontade.
Ocorre, por vezes, que vários membros da comunidade tenham a mesma profecia no momento; quando a primeira profecia é anunciada, os outros, tendo-a também recebido, podem confirmá-la, dizendo em bom tom: "eu confirmo". Isto dá certeza da profecia quanto à sua origem. Deve-se falar o que se recebe, tão logo se recebe. Ao ouvir o anúncio de uma profecia, toda a assembléia deve louvar o Senhor que ali está se comunicando com ela.
4. Tipos de profecia
Além da profecia verdadeira, pode acontecer de ser proclamada numa reunião de oração ou fora dela:
a) Não profecia - quando as palavras vêm da mente humana; são sentimentos, às vezes bastante piedosos, mas que não vêm de Deus e sim da pessoa que, movida por seus anseios ou mesmo por problemas emocionais, tenta comunicar os próprios sentimentos como se fossem mensagens do Espírito;
b) Falsa profecia - é uma mensagem influenciada pelo Demônio; pode ocorrer. Normalmente, ela contradiz a Escritura ou a Tradição e o ensinamento da Igreja. A falsa profecia é detectada pelos seus frutos: ela causa um mal-estar espiritual junto à comunidade; vê-se logo que não procede do Espírito Santo pelos efeitos negativos que produz.
Pode acontecer também que inspirações autênticas se mesclem à subjetividade do indivíduo que, espontaneamente, vai introduzindo outros elementos e misturando-os com o que Deus está revelando. Seria o caso de:
a) Profecias longas – a pessoa recebe a inspiração e, depois que fala o que sentiu de Deus, permanece comentando ou acrescentando coisas que, nas mais das vezes, ela mesma tem vontade de dizer à comunidade ou a algumas pessoas que ali estão presentes. A profecia se torna longa e um pouco confusa, dificultando o entendimento dos ouvintes quanto ao que realmente é mensagem de Deus. Apesar disso, o fato de uma profecia ser um pouco mais alongada, não quer dizer que estejam sendo feito acréscimos pelo profeta;
b) Profecias repetitivas – a pessoa pronuncia as palavras inspiradas e, na ânsia de continuar ensinando, continua repetindo as mesmas palavras ou com pequenas variações;
c) Profecias influenciadas por devoções pessoais – quando uma pessoa tem ligação muito estreita com algum tipo de devoção (Coração de Jesus, Nossa Senhora, algum santo, etc), poderá se sentir impulsionada a mesclar a profecia com esses sentimentos pessoais; às vezes, a mensagem é transmitida estritamente com elementos de tais devoções, o que se constitui numa não-profecia.
É necessário recorrer ao dom do discernimento, pelo qual Deus dá uma convicção interior da autenticidade ou não da profecia. O discernimento, portanto, torna-se também um exercício espiritual. No entanto, ao ser proclamada uma profecia, seria oportuno:
a) Observar se ela não contradiz a Bíblia ou a doutrina da Igreja;
b) Perceber as impressões que ela causa da assembléia (paz, alegria, contrição, medo, angústia, ansiedade, etc);
c) Esperar que ela seja confirmada por outras pessoas.
É bom que se diga que o Demônio não tem poder e autoridade para interferir numa oração humilde e aberta ao Espírito. Quanto mais louvor, menos espaço para Satanás. Ele necessita de um tipo de “brecha” para influenciar as pessoas, que pode ser causada por presunção, desespero, altivez ou algum pecado grave que esteja, de alguma forma, influenciando fortemente o momento de oração.
Quanto aos destinatários, uma profecia pode ser:
a) Pessoal – dirigida diretamente a uma pessoa, na oração pessoal ou através de alguém que ora por ela; mais raramente, mas também pode acontecer numa oração comunitária;
b) Comunitária – dirigida a todas as pessoas reunidas em oração.
Pode-se pedir uma profecia para alguém particularmente, quanto para uma necessidade da comunidade como um todo. Na profecia podem ser revelados planos a se realizar e que já estão sendo amadurecidos dentro de cada um individualmente ou na comunidade.
Quanto à forma, uma profecia pode ser:
a) Direta – pronunciada em língua compreensível, na primeira pessoa do singular, como se fosse o próprio Deus falando;
b) Indireta - por meio de visualização, recordação de trechos bíblicos ou fatos ocorridos, entre outros; nesses casos, o profeta normalmente comunica o que Deus está falando, como se estive expondo. Também é possível que alguém profetize enquanto profere uma pregação ou ensino.
Freqüentemente podem ocorrer profecias com substrato bíblico, compostas de frases bíblicas, justamente porque naquele momento, Deus quer relembrar à comunidade orante, esta ou aquela mensagem ou verdade da fé contida na Escritura. Neste contexto, a profecia, é "uma ação de Deus mediante a qual alguém proclama uma mensagem de Deus, a qual focaliza uma verdade já conhecida, mas que precisa naquele momento, ser lembrada". As passagens bíblicas vêm ao pensamento naturalmente.
No entanto, é preciso que se diga que a mera recordação de versículos bíblicos sem uma conotação atual não é profecia. Quando alguém apenas emite supostas mensagens tais como: “Meus filhos, eu sou o caminho, a verdade e a vida”, não se trata de uma profecia no sentido estrito; na maioria dos casos, é um pensamento da própria pessoa, porque recordou aquela palavra naquele momento, motivada ou não pelo clima da oração. Pelo dom do discernimento é possível saber se as palavras bíblicas têm uma conotação atual.
Por fim, é importante lembrar que “um carisma – sobretudo de ordem profética – não é infalível e o seu início pode ser marcado pelo fracasso, pelo erro, pela falta de confirmação, sem que ele tenha de ser imediatamente questionado. Tudo isso é uma fase de ensaios às cegas, legítima e necessária para assentar esse carisma. Mas ela não deve, obviamente, prolongar-se, excessivamente...”.
5. Profecia e obediência
As profecias são dadas como orientações para serem ouvidas. Quando não se presta atenção e não se vive o que o Senhor fala, Ele pode calar-se. É importante levar bem a sério as profecias, são palavras de Deus, palavras de vida, que levam a comunidade e as pessoas a terem vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10).
“O grupo deve levar a sério a palavra de profecia, porque, por ela, o Senhor nos fala. Ela pode mudar o rumo das coisas, o rumo da própria Igreja, e é assim que a Igreja, que somos nós, se mantém em ação”.
6. Conclusão
O objetivo da profecia é edificar, exortar, consolar (cf. 1 Cor 14,3). Sua autenticidade deve ser julgada pelos demais profetas (cf. 1 Cor 14, 29-33). Seu conteúdo deve estar de acordo com a Bíblia e o ensino da Igreja, levar à glorificação de Deus, ressaltar o crescimento de Cristo no amor fraterno, na edificação da Igreja e na busca da santidade.
O profeta é o porta-voz de Deus – Deus é o centro – mostrando o Cristo vivo e ressuscitado agindo, por seu Espírito. São Paulo convida à confiança quando diz: "Todos podeis profetizar" (1 Cor 14, 31). A Igreja precisa de profetas que encorajem, animem, instruam e exortem (cf. Col 3, 16).
O carisma da Interpretação das Línguas
me wa Ijippari
1. Introdução
Ocorre muitas vezes numa assembléia carismática reunida, a oração ou o canto em línguas, numa harmoniosa alegria pela presença de Deus naquele lugar. Durante a oração ou canto em línguas ou no silêncio que se segue, uma voz destaca-se das demais. Outras vozes se calam porque sentem que o Espírito está agindo, dando uma profecia em línguas (falada, orada ou cantada). Após a profecia em línguas faz-se silêncio para a escuta da interpretação.
A interpretação pode vir pela mesma pessoa ou por outra, de forma direta, como uma palavra de profecia. Pode ocorrer também a interpretação indireta por meio de visualização, recordação de versículos bíblicos ou fatos, entre outras formas.
Da mesma maneira que na profecia, o dom da interpretação das línguas pode ocorrer durante o “ciclo carismático”: louvor – silêncio – profecia em línguas e interpretação – louvor a Deus.
2. Conceito
O carisma da interpretação das línguas é a faculdade de perceber o sentido da oração ou da profecia em línguas. Não se confunde com tradução (ou versão). Nesta, o tradutor entende cada palavra. É por isso que ele, utilizando palavras de um dos idiomas conhecidos, reescreve o texto em outra língua qualquer. A tradução é a substituição de palavras, termos ou períodos de uma língua pelos de outra.
O dom da interpretação das línguas é um impulso, através de uma unção espiritual, por meio do qual a pessoa capta o sentido da mensagem e comunica-a, para torná-la compreensível aos membros da comunidade. É, portanto, uma profecia motivada e antecedida pelo dom das línguas:
“Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito. Ora, desejo que todos faleis em línguas, muito mais desejo que profetizeis. Maior é quem profetiza do que quem fala em línguas, a não ser que este as interprete, para que a assembléia receba edificação. Quem fala em línguas, peça na oração o dom de interpretar" (1 Cor 14, 2.5.13).
Tanto “o falar” como “o orar” e “o cantar” em línguas só se tornam mensagem profética quando houver interpretação.
3. O exercício da interpretação das línguas
O exercício do dom de interpretação das línguas segue os mesmos princípios que para o dom de profecia. De forma pessoal ou comunitária,a interpretação ocorre após a emissão de uma mensagem em línguas.
A mensagem em línguas pode ter duração diferente, podendo ser longa ou breve; contudo, a interpretação deve ser concisa, anotando com clareza a mensagem do Senhor. Quem recebe o dom da interpretação percebe que as palavras lhe vêm à mente de forma abundante, e deve dizer o que o Senhor lhe inspira.
Assim como há uma unção para profetizar, uma mensagem em línguas também é precedida por uma unção. O intérprete recebe um impulso interior para a interpretação. Aliás, a unção do Espírito caracteriza o exercício dos dons do Espírito Santo. Quanto mais a pessoa se habitua com ela, mais facilmente identifica o modo como o Senhor lhe "dita" as palavras.
Por que Deus utiliza o dom das línguas para comunicar sua mensagem quando pode fazê-lo “diretamente” através da profecia? Dom João Evangelista Martins Terra procura responder:
“Falar em línguas numa assembléia cultual cria uma atmosfera de audição interior e uma expectação atenta da palavra do Senhor. Esse dom alerta os que profetizam no grupo, a fim de estarem mais preparados para receber uma inspiração sobre o que o Senhor quer comunicar ao grupo, e coloca também o grupo inteiro alerta para escutar o que se vai dizer. Essa interpretação não é uma tradução, mas um carisma diferente que não acontece na oração particular, mas só quando o Espírito suscita alguém a falar em línguas na assembléia, enquanto todos os outros guardam silêncio, preparando assim o clima para a intervenção do carisma profético que interpreta exortando, consolando e corrigindo".
Por vezes, acontece que várias pessoas recebem a mesma interpretação da mensagem ouvida. Neste caso, o senso de que a interpretação ouvida é correta, é ratificado. Como na profecia, deve-se dizer em voz alta: “eu confirmo!”. Após receber uma mensagem em línguas e sua interpretação, todos devem proclamar a misericórdia do Senhor, pois, ao receber uma mensagem do Senhor, através da manifestação dos dons do seu Espírito, deve-se deixar algum tempo para o louvor. É Ele mesmo que está dirigindo a sua palavra. E quando o Senhor fala, quer por meio da interpretação das línguas, quer por profecias, sua palavra traz sempre frutos poderosos sobre todos.
Uma vez interpretada, a manifestação das línguas tem todas as utilidades das profecias, a saber: edificar, exortar, consolar (cf. 1 Cor 14, 3).
3.1. O acolhimento da interpretação das línguas
O acolhimento do dom de interpretação também segue os mesmos princípios para o acolhimento da profecia. Sua dinâmica é semelhante à da profecia, que é colocada diretamente no coração do profeta por uma ação do Espírito Santo. A interpretação das línguas é também depositada na mente do intérprete.
4. Tipos de interpretação
A distinção dos tipos de interpretação obedece aos parâmetros atribuídos à profecia. A interpretação é verdadeira quando vem do Espírito Santo. Não-interpretação é quando as palavras têm origem na mente humana (não vem de Deus). A falsa interpretação é influenciada pelo Demônio.
O instrumento que separa um dos outros é o carisma do discernimento dos espíritos. O discernimento da interpretação é tão necessário quanto para a profecia, pois uma vez que é proclamada assume todas as características da profecia, bem como seus requisitos e utilidades (cf. Mt 7,15-23).
Numa assembléia pequena ou numa grande assembléia que esteja em profunda oração, consciente da presença de Deus, dirigida pelo Espírito Santo, haverá outros profetas para julgarem ou confirmarem a profecia em línguas e sua interpretação (cf. 1 Cor 14, 32-33).
Aqui, é importante fazer a diferença entre a oração em línguas e a profecia em línguas; somente esta necessita de interpretação. Quando se ora ou louva em línguas, não há necessidade de interpretação porque a pessoa está se dirigindo a Deus (cf. 1 Cor 14, 2-4).
Quando existe uma unção profética na assembléia e que se expressa em línguas, aí cabe a interpretação em vernáculo e a confirmação de outros membros da assembléia (cf. 1 Cor 14, 13).
5. Conclusão
“Por isso quem fala em línguas, peça na oração o dom de as interpsetar” (1Cor 14, 13). O carisma da interpretação leva ao Pai, por Jesus, no poder do Espírito Santo, orientando os filhos de Deus a fazer a Sua vontade. Quanto ao seu exercício, obedece aos mesmos princípios da profecia, com a diferença de haver sempre uma mensagem em línguas antecedente.
“Assim, pois, irmãos, aspirai ao dom de profetizar; porém, não impeçais falar em línguas. Mas faça-se tudo com dignidade e ordem” (1Cor 14, 39-40). Quem deseja, quem quer, pede: “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado” (Mc 11,24).