sexta-feira, 30 de setembro de 2011

OFICINA DE DONS

Carisma da Profecia

  
1. Introdução

O carisma da profecia é um dos meios que o Senhor tem para comunicar-se com o seu povo, encorajando, exortando, instruindo, dando novo rumo ao trabalho apostólico, indicando a direção certa e levando à conversão, enfim, manifestando sua santa vontade em tudo (cf. 1 Cor 14, 13)
Deus sempre quer falar, mas nem sempre o seu povo está pronto para escutá-lo. Quando o faz e, em seguida, Lhe obedece, faz a coisa certa, na hora certa, do jeito certo. Quando faz por sua própria conta, por sua vontade, algumas vezes acerta, mas na maioria delas erra, sofre ou fracassa. É necessário ouvir o Senhor sempre (cf. Dt 6, 4).
Que maravilha poder ouvir a Deus e por ele ser orientado. Que povo há, com efeito, que tenha seu Deus tão próximo de si cada vez que o invoca com sinceridade (cf. Dt 4,7)?

2. Conceito

“A profecia é um carisma em virtude do qual o inspirado, em nome de Deus, é movido pelo Espírito, fala à assembléia para exortá-la, estimulá-la ou corrigi-la. É um carisma que contribui muito para edificar a Igreja. Não comunica revelações sensacionais, mas é uma palavra inspirada que manifesta a vontade de Deus em circunstâncias do momento e manifesta os sentimentos ocultos do coração. A palavra profética geralmente suscita fortemente um movimento de conversão, de agradecimento ao Senhor por suas intervenções de amor, um sentimento de paz. Ocasionalmente o profeta recebe uma luz particular predizendo o futuro (cf. 1Cor 14,3-4.24-25)”
Por vezes, confirma-se na profecia o que já se está fazendo, encorajando a continuar. “Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: não temas! Fala e não te cales. Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade (At 18, 9-10). Ela pode também prever uma missão para a Igreja dentro de algum tempo: “Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado” (At 13,2).
São Paulo aconselha a aspirar aos dons "mas, sobretudo, ao dom de profecia" (cf. 1 Cor 14, 1); e explica a importância deste dom: "Quem profetiza fala aos homens para edificá-los, exortá-los e consolá-los" (1 Cor 14,3 ). O dom de profecia “edifica a assembléia" (cf. 1 Cor 14, 4); por isso, o apóstolo manifesta seu desejo: "Ora, desejo que todos faleis em línguas, porém, muito mais desejo que profetizeis" (1 Cor 14, 5). Este dom "instrui também os outros (ouvintes)" (cf. 1 Cor 14, 19), e é um sinal "para os fiéis" (cf. 1 Cor 14, 22), quanto para os infiéis, sendo para estes motivo de adoração e proclamação da presença de Deus em meio à comunidade (cf. 14, 24-25).
É desejo ardente do apóstolo que na comunidade se manifeste este dom do Espírito: “Não desprezeis as profecias” (1 Tess 5, 20). "Aquele que tem o dom da profecia, exerça-o conforme a fé” (Rm 12, 6), pois, segundo a medida do dom de Cristo, alguns foram constituídos profetas para o aperfeiçoamento dos cristãos (cf. Ef 4,7-12).
A profecia pode trazer uma sugestão sobre algo que deve ser mudado; pode trazer uma confirmação do amor de Deus, do seu poder, um sentido profundo de sua presença. A profecia é um dom que todos podem ter: "Todos, um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e serem todos exortados" (1 Cor 14, 31).
Em Números 11,29 lê-se: "Prouvera a Deus que todos profetizassem e que o Senhor lhes desse o seu Espírito". Ora, o profeta Joel predissera que o Senhor iria derramar o seu Espírito sobre todo o ser vivo: tal profecia, no Novo Testamento, é lembrada pelo apóstolo Pedro, logo no dia de Pentecostes, como "cumprimento do que foi dito pelo profeta Joel” (cf. At 2, 16-21). Assim, a profecia é uma conseqüência do derramamento do Espírito Santo na Igreja, pois quem tem o Espírito do Senhor e se deixa conduzir por Ele, torna-se um instrumento apto do Senhor para profetizar na assembléia.

3. O exercício do dom de profecia

O dom de profecia é a faculdade de acolher no íntimo (pensamento) e transmitir em palavras inteligíveis, as revelações de Deus. Está no campo das revelações particulares e, como tal, não pode contradizer o que foi revelado através da Bíblia e da Tradição e que é explicado pelo Magistério da Igreja (revelação pública).
A manifestação da profecia deve ser com "dignidade e ordem" (cf. 1 Cor 14, 40), e com um critério de julgamento sobre a mesma (cf. 14, 29), pois, "Deus não é Deus de confusão, mas de paz" (1 Cor 14, 33).
Assim sendo, o exercício da profecia acontece quando o profeta fala sob a influência sobrenatural do Espírito, abrindo o seu ser para isso, transformando-se em “porta-voz” de Deus, para a verbalização de Suas palavras.
A profecia não se refere necessariamente ao futuro, muito embora isso tenha sido o caso em algumas ocasiões, como evidencia a Bíblia. Pela profecia, Deus utiliza-se de alguém para dizer aos homens o que Ele pensa sobre a situação presente, ou qual é a Sua intenção para o futuro. Numa reunião de oração, a profecia tem o efeito de aprofundar o senso da presença de Deus. É um meio eficaz de o povo ser conduzido por Deus. Neste sentido, o profeta transmite o pensamento de Deus para que se possa agir segundo esse pensamento. E essa transmissão vem de Deus e não da mente daquele que fala.
O profeta fala sob inspiração divina, sob ação divina, sendo instrumento ativo desta inspiração e comunicação; o que importa é a mensagem, e não tanto o transmissor da mensagem. É preciso ter cuidado para não se deixar levar pela fraqueza humana, não aceitando uma profecia divina porque esta veio por este ou aquele membro da comunidade.
O Espírito Santo é livre para que haja profecia onde, como e quando Ele quiser; nas reuniões de oração, normalmente, há uma certa seqüência em relação à profecia, como segue: oração, louvor (cânticos ou preces), oração e cântico em línguas seguidos de breve tempo de silêncio. Assim se cria o clima favorável para a manifestação do carisma da profecia, que deve ser desejado por todos (cf. 1 Cor 14, 1). Após acolher a profecia, a comunidade louva e exulta de alegria pela palavra que o Senhor deu. É importante que haja confirmação da profecia.

3.1. A acolhida da profecia

Ninguém profetiza sem o consentimento da vontade, mas acolhe as palavras de Deus, em sua mente e, se não as pronunciar por medo, insegurança ou respeito humano, deixa de profetizar. Deus não violenta, não força a mente humana contra a sua vontade e consentimento; serve-se sim, de suas faculdades, de maneira que a pessoa é usada por Ele.
É o Senhor quem escolhe, chama e capacita o profeta (cf. Ef 4, 11). É Ele que suscita o desejo de profetizar, vai derrubando as barreiras que impedem a entrega plena do ser da pessoa ao seu Espírito, embora respeite o seu livre-arbítrio, sua liberdade. A profecia é geralmente precedida pela unção, que é um ‘senso da presença do Senhor’, um movimento no íntimo do espírito, é um impulso para anunciar a mensagem de Deus; com freqüência, a unção é a chave que permite saber que o Senhor quer falar.
Assim sendo, são combinadas a ação do Espírito e a adesão da pessoa. O Espírito unge o profeta, às vezes com sinais sensíveis e inspira-lhe as palavras a serem ditas. A pessoa deve entregar-se a Deus, acolher as palavras no íntimo e pronunciá-las destemidamente. O profeta não precisa mudar a voz ou imprimir uma tonalidade discursiva, mas apenas pronunciar o que lhe é revelado na sua própria maneira de falar. Nesse sentido, Deus se utiliza da cultura e do vocabulário da pessoa.
O essencial para acolher a profecia e proclamá-la é crer que Deus quer falar naquele momento e dispor-se a ser seu instrumento. A pessoa recebe em sua mente uma palavra ou frase e, à medida que as pronuncia, outras se seguirão. Também pode acontecer de ser dada primeiro em pensamento ou por meio de uma imagem.
Qualquer que seja a forma de receber a profecia, a pessoa deve dar um passo na fé para pronunciá-la, sem se deixar impregnar por dúvidas e inseguranças. Por vezes, a pessoa se acostuma a ficar esperando pelos que mais costumeiramente profetizam. Os que agem assim, dificilmente serão usados com o dom da profecia. Para ouvir o Senhor, é necessário um ato de entrega ao Senhor e não apenas de passividade.
O profeta deve manter uma expectativa de escuta. A escuta é a capacidade dada pelo Espírito Santo para ouvir a voz de Deus no coração e discernir, dentre todas as vozes que chegam, qual é a de Deus (cf. Jo 12,27-29).
A oração do discípulo de Jesus é mais do que falar no vazio, ler no vácuo, sofrer na solidão, contemplar um túnel sem fim. A oração do discípulo de Jesus Cristo ressuscitado é muito mais do que tatear na escuridão. Ela não é tampouco um salto no abismo. O discípulo de Jesus foi elevado à posição de amigo do Mestre (cf. Jo 15,14). Sendo amigo de uma das Pessoas da Santíssima Trindade, goza, automaticamente, da amizade das outras. Por isso sua oração é, antes de tudo, aproximar-se de Deus (cf. Hb 11, 6), é um inclinar de ouvido na direção dos lábios da Trindade Santíssima (cf. Is 50,4b-5) para saborear o seu canto de amor.

3.2. O ciclo carismático

Nas reuniões de oração, cria-se assim o que é denominado "ciclo carismático", composto de louvor, oração e profecia. A assembléia se dirige a Deus pela oração, que é o diálogo com o Senhor; Ele responde pela profecia, usando as mentes e vontades daqueles que se rendem a Ele para edificar a comunidade.
No ciclo carismático, encontram-se assim estes elementos: oração, louvor (cânticos ou preces), orações em línguas, seguido de breve tempo de silêncio, unção (que geralmente precede a profecia), profecia, após a qual a comunidade louva e exulta de alegria pela palavra que o Senhor lhe dirigiu. Na medida em que a comunidade se habitua com o ciclo carismático, torna-se mais aberta ao Senhor e ao cumprimento de sua vontade.
Ocorre, por vezes, que vários membros da comunidade tenham a mesma profecia no momento; quando a primeira profecia é anunciada, os outros, tendo-a também recebido, podem confirmá-la, dizendo em bom tom: "eu confirmo". Isto dá certeza da profecia quanto à sua origem. Deve-se falar o que se recebe, tão logo se recebe. Ao ouvir o anúncio de uma profecia, toda a assembléia deve louvar o Senhor que ali está se comunicando com ela.

4. Tipos de profecia

      Além da profecia verdadeira, pode acontecer de ser proclamada numa reunião de oração ou fora dela:

a)    Não profecia - quando as palavras vêm da mente humana; são sentimentos, às vezes bastante piedosos, mas que não vêm de Deus e sim da pessoa que, movida por seus anseios ou mesmo por problemas emocionais, tenta comunicar os próprios sentimentos como se fossem mensagens do Espírito;
b)      Falsa profecia - é uma mensagem influenciada pelo Demônio; pode ocorrer. Normalmente, ela contradiz a Escritura ou a Tradição e o ensinamento da Igreja. A falsa profecia é detectada pelos seus frutos: ela causa um mal-estar espiritual junto à comunidade; vê-se logo que não procede do Espírito Santo pelos efeitos negativos que produz.

Pode acontecer também que inspirações autênticas se mesclem à subjetividade do indivíduo que, espontaneamente, vai introduzindo outros elementos e misturando-os com o que Deus está revelando. Seria o caso de:

a)      Profecias longas – a pessoa recebe a inspiração e, depois que fala o que sentiu de Deus, permanece comentando ou acrescentando coisas que, nas mais das vezes, ela mesma tem vontade de dizer à comunidade ou a algumas pessoas que ali estão presentes. A profecia se torna longa e um pouco confusa, dificultando o entendimento dos ouvintes quanto ao que realmente é mensagem de Deus. Apesar disso, o fato de uma profecia ser um pouco mais alongada, não quer dizer que estejam sendo feito acréscimos pelo profeta;
b)      Profecias repetitivas – a pessoa pronuncia as palavras inspiradas e, na ânsia de continuar ensinando, continua repetindo as mesmas palavras ou com pequenas variações;
c)      Profecias influenciadas por devoções pessoais – quando uma pessoa tem ligação muito estreita com algum tipo de devoção (Coração de Jesus, Nossa Senhora, algum santo, etc), poderá se sentir impulsionada a mesclar a profecia com esses sentimentos pessoais; às vezes, a mensagem é transmitida estritamente com elementos de tais devoções, o que se constitui numa não-profecia.

É necessário recorrer ao dom do discernimento, pelo qual Deus dá uma convicção interior da autenticidade ou não da profecia. O discernimento, portanto, torna-se também um exercício espiritual. No entanto, ao ser proclamada uma profecia, seria oportuno:

a)      Observar se ela não contradiz a Bíblia ou a doutrina da Igreja;
b)      Perceber as impressões que ela causa da assembléia (paz, alegria, contrição, medo, angústia, ansiedade, etc);
c)      Esperar que ela seja confirmada por outras pessoas.

É bom que se diga que o Demônio não tem poder e autoridade para interferir numa oração humilde e aberta ao Espírito. Quanto mais louvor, menos espaço para Satanás. Ele necessita de um tipo de “brecha” para influenciar as pessoas, que pode ser causada por presunção, desespero, altivez ou algum pecado grave que esteja, de alguma forma, influenciando fortemente o momento de oração.
Quanto aos destinatários, uma profecia pode ser:

a)      Pessoal – dirigida diretamente a uma pessoa, na oração pessoal ou através de alguém que ora por ela; mais raramente, mas também pode acontecer numa oração comunitária;
b)      Comunitária – dirigida a todas as pessoas reunidas em oração.

Pode-se pedir uma profecia para alguém particularmente, quanto para uma necessidade da comunidade como um todo. Na profecia podem ser revelados planos a se realizar e que já estão sendo amadurecidos dentro de cada um individualmente ou na comunidade.
      Quanto à forma, uma profecia pode ser:

a) Direta – pronunciada em língua compreensível, na primeira pessoa do singular, como se fosse o próprio Deus falando;
b) Indireta - por meio de visualização, recordação de trechos bíblicos ou fatos ocorridos, entre outros; nesses casos, o profeta normalmente comunica o que Deus está falando, como se estive expondo. Também é possível que alguém profetize enquanto profere uma pregação ou ensino.

Freqüentemente podem ocorrer profecias com substrato bíblico, compostas de frases bíblicas, justamente porque naquele momento, Deus quer relembrar à comunidade orante, esta ou aquela mensagem ou verdade da fé contida na Escritura. Neste contexto, a profecia, é "uma ação de Deus mediante a qual alguém proclama uma mensagem de Deus, a qual focaliza uma verdade já conhecida, mas que precisa naquele momento, ser lembrada". As passagens bíblicas vêm ao pensamento naturalmente.
No entanto, é preciso que se diga que a mera recordação de versículos bíblicos sem uma conotação atual não é profecia. Quando alguém apenas emite supostas mensagens tais como: “Meus filhos, eu sou o caminho, a verdade e a vida”, não se trata de uma profecia no sentido estrito; na maioria dos casos, é um pensamento da própria pessoa, porque recordou aquela palavra naquele momento, motivada ou não pelo clima da oração. Pelo dom do discernimento é possível saber se as palavras bíblicas têm uma conotação atual.
Por fim, é importante lembrar que “um carisma – sobretudo de ordem profética – não é infalível e o seu início pode ser marcado pelo fracasso, pelo erro, pela falta de confirmação, sem que ele tenha de ser imediatamente questionado. Tudo isso é uma fase de ensaios às cegas, legítima e necessária para assentar esse carisma. Mas ela não deve, obviamente, prolongar-se, excessivamente...”.

5. Profecia e obediência

As profecias são dadas como orientações para serem ouvidas. Quando não se presta atenção e não se vive o que o Senhor fala, Ele pode calar-se. É importante levar bem a sério as profecias, são palavras de Deus, palavras de vida, que levam a comunidade e as pessoas a terem vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10).
 “O grupo deve levar a sério a palavra de profecia, porque, por ela, o Senhor nos fala. Ela pode mudar o rumo das coisas, o rumo da própria Igreja, e é assim que a Igreja, que somos nós, se mantém em ação”.

6. Conclusão


O objetivo da profecia é edificar, exortar, consolar (cf. 1 Cor 14,3). Sua autenticidade deve ser julgada pelos demais profetas (cf. 1 Cor 14, 29-33). Seu conteúdo deve estar de acordo com a Bíblia e o ensino da Igreja, levar à glorificação de Deus, ressaltar o crescimento de Cristo no amor fraterno, na edificação da Igreja e na busca da santidade.
O profeta é o porta-voz de Deus – Deus é o centro – mostrando o Cristo vivo e ressuscitado agindo, por seu Espírito. São Paulo convida à confiança quando diz: "Todos podeis profetizar" (1 Cor 14, 31). A Igreja precisa de profetas que encorajem, animem, instruam e exortem (cf. Col 3, 16).




O carisma da Interpretação das Línguas
me wa Ijippari
 1. Introdução

Ocorre muitas vezes numa assembléia carismática reunida, a oração ou o canto em línguas, numa harmoniosa alegria pela presença de Deus naquele lugar. Durante a oração ou canto em línguas ou no silêncio que se segue, uma voz destaca-se das demais. Outras vozes se calam porque sentem que o Espírito está agindo, dando uma profecia em línguas (falada, orada ou cantada). Após a profecia em línguas faz-se silêncio para a escuta da interpretação.
A interpretação pode vir pela mesma pessoa ou por outra, de forma direta, como uma palavra de profecia. Pode ocorrer também a interpretação indireta por meio de visualização, recordação de versículos bíblicos ou fatos, entre outras formas.
Da mesma maneira que na profecia, o dom da interpretação das línguas pode ocorrer durante o “ciclo carismático”: louvor – silêncio – profecia em línguas e interpretação – louvor a Deus.

2. Conceito

O carisma da interpretação das línguas é a faculdade de perceber o sentido da oração ou da profecia em línguas. Não se confunde com tradução (ou versão). Nesta, o tradutor entende cada palavra. É por isso que ele, utilizando palavras de um dos idiomas conhecidos, reescreve o texto em outra língua qualquer. A tradução é a substituição de palavras, termos ou períodos de uma língua pelos de outra.
O dom da interpretação das línguas é um impulso, através de uma unção espiritual, por meio do qual a pessoa capta o sentido da mensagem e comunica-a, para torná-la compreensível aos membros da comunidade. É, portanto, uma profecia motivada e antecedida pelo dom das línguas:

“Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito. Ora, desejo que todos faleis em línguas, muito mais desejo que profetizeis. Maior é quem profetiza do que quem fala em línguas, a não ser que este as interprete, para que a assembléia receba edificação. Quem fala em línguas, peça na oração o dom de interpretar" (1 Cor 14, 2.5.13).

Tanto “o falar” como “o orar” e “o cantar” em línguas só se tornam mensagem profética quando houver interpretação.

3. O exercício da interpretação das línguas

O exercício do dom de interpretação das línguas segue os mesmos princípios que para o dom de profecia. De forma pessoal ou comunitária,a interpretação ocorre após a emissão de uma mensagem em línguas.
A mensagem em línguas pode ter duração diferente, podendo ser longa ou breve; contudo, a interpretação deve ser concisa, anotando com clareza a mensagem do Senhor. Quem recebe o dom da interpretação percebe que as palavras lhe vêm à mente de forma abundante, e deve dizer o que o Senhor lhe inspira.
Assim como há uma unção para profetizar, uma mensagem em línguas também é precedida por uma unção. O intérprete recebe um impulso interior para a interpretação. Aliás, a unção do Espírito caracteriza o exercício dos dons do Espírito Santo. Quanto mais a pessoa se habitua com ela, mais facilmente identifica o modo como o Senhor lhe "dita" as palavras.
Por que Deus utiliza o dom das línguas para comunicar sua mensagem quando pode fazê-lo “diretamente” através da profecia? Dom João Evangelista Martins Terra procura responder:

“Falar em línguas numa assembléia cultual cria uma atmosfera de audição interior e uma expectação atenta da palavra do Senhor. Esse dom alerta os que profetizam no grupo, a fim de estarem mais preparados para receber uma inspiração sobre o que o Senhor quer comunicar ao grupo, e coloca também o grupo inteiro alerta para escutar o que se vai dizer. Essa interpretação não é uma tradução, mas um carisma diferente que não acontece na oração particular, mas só quando o Espírito suscita alguém a falar em línguas na assembléia, enquanto todos os outros guardam silêncio, preparando assim o clima para a intervenção do carisma profético que interpreta exortando, consolando e corrigindo".

Por vezes, acontece que várias pessoas recebem a mesma interpretação da mensagem ouvida. Neste caso, o senso de que a interpretação ouvida é correta, é ratificado. Como na profecia, deve-se dizer em voz alta: “eu confirmo!”. Após receber uma mensagem em línguas e sua interpretação, todos devem proclamar a misericórdia do Senhor, pois, ao receber uma mensagem do Senhor, através da manifestação dos dons do seu Espírito, deve-se deixar algum tempo para o louvor. É Ele mesmo que está dirigindo a sua palavra. E quando o Senhor fala, quer por meio da interpretação das línguas, quer por profecias, sua palavra traz sempre frutos poderosos sobre todos.
Uma vez interpretada, a manifestação das línguas tem todas as utilidades das profecias, a saber: edificar, exortar, consolar (cf. 1 Cor 14, 3).

3.1. O acolhimento da interpretação das línguas

O acolhimento do dom de interpretação também segue os mesmos princípios para o acolhimento da profecia. Sua dinâmica é semelhante à da profecia, que é colocada diretamente no coração do profeta por uma ação do Espírito Santo. A interpretação das línguas é também depositada na mente do intérprete.

4. Tipos de interpretação

A distinção dos tipos de interpretação obedece aos parâmetros atribuídos à profecia. A interpretação é verdadeira quando vem do Espírito Santo. Não-interpretação é quando as palavras têm origem na mente humana (não vem de Deus). A falsa interpretação é influenciada pelo Demônio.
O instrumento que separa um dos outros é o carisma do discernimento dos espíritos. O discernimento da interpretação é tão necessário quanto para a profecia, pois uma vez que é proclamada assume todas as características da profecia, bem como seus requisitos e utilidades (cf. Mt 7,15-23).
Numa assembléia pequena ou numa grande assembléia que esteja em profunda oração, consciente da presença de Deus, dirigida pelo Espírito Santo, haverá outros profetas para julgarem ou confirmarem a profecia em línguas e sua interpretação (cf. 1 Cor 14, 32-33).
Aqui, é importante fazer a diferença entre a oração em línguas e a profecia em línguas; somente esta necessita de interpretação. Quando se ora ou louva em línguas, não há necessidade de interpretação porque a pessoa está se dirigindo a Deus (cf. 1 Cor 14, 2-4).
Quando existe uma unção profética na assembléia e que se expressa em línguas, aí cabe a interpretação em vernáculo e a confirmação de outros membros da assembléia (cf. 1 Cor 14, 13).

5. Conclusão

“Por isso quem fala em línguas, peça na oração o dom de as interpsetar” (1Cor 14, 13). O carisma da interpretação leva ao Pai, por Jesus, no poder do Espírito Santo, orientando os filhos de Deus a fazer a Sua vontade. Quanto ao seu exercício, obedece aos mesmos princípios da profecia, com a diferença de haver sempre uma mensagem em línguas antecedente.
 “Assim, pois, irmãos, aspirai ao dom de profetizar; porém, não impeçais falar em línguas. Mas faça-se tudo com dignidade e ordem” (1Cor 14, 39-40). Quem deseja, quem quer, pede: “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado” (Mc 11,24).


domingo, 25 de setembro de 2011

DOM DE LINGUAS



O dom das línguas


1. Introdução

Neste capítulo serão vistas e estudadas as três modalidades do carisma da variedade das línguas que são: o orar, o falar e o cantar em línguas. Além disso, serão abordados os principais aspectos de sua manifestação e o fundamento bíblico e doutrinário.
Algumas pessoas pensam e dizem que o dom das línguas é o menor e o mais insignificante de todos. Porém, São Paulo escreve: “Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito” (1 Cor 14,2). Ora, o Espírito orando no homem será pouca coisa?  “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus” (Rm 8, 26-27).
Talvez o mais difícil, principalmente para alguns, seja abandonar-se para que o Espírito ore através de sua própria voz com “gemidos inefáveis”. Alguns precisam renunciar a auto-suficiência e submeter-se à ação do Espírito Santo. Mas vale a pena! O gozo inefável que o mesmo Espírito traz com sua presença, a paz profunda que só Deus pode dar, a certeza de que Ele ora da melhor forma, são benefícios certos e imprescindíveis para o crescimento espiritual.
O grande desejo de S. Paulo é manifestado assim: "De minha parte, desejaria que todos falásseis em línguas..." (1 Cor 14,5). É a esta oração misteriosa, inarticulada, que a pessoa se une, deixando ao próprio Deus o cuidado de glorificar-se e dar-se graças por um amor que supera todo o conhecimento. Esta oração contém um caminho de enriquecimento espiritual, um título da graça. Na medida em que cresce a oração, modifica-se a vida pela ação amorosa e misteriosa de Deus.
No pentecostes aconteceu a primeira manifestação do dom das línguas de que se tem conhecimento. São Lucas narrou com muito entusiasmo: “Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2, 4). Depois do pentecostes, o dom das línguas difundiu-se também entre todos os cristãos: “Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram vendo que o dom do Espírito Santo era derramado também sobre os pagãos; pois eles os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus” (At 10, 46). “E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas” (At 19, 6).
           
2. Conceito

O dom das línguas é uma oração feita por meio de sons emitidos, movidos por inspiração  e que o Espírito Santo lhes dá o sentido. Não se trata de língua, no sentido que apresenta a lingüística, porque não há conceitos humanos, mesmo desconhecidos. Consiste em dizer palavras sem conhecer-­lhes o significado. Proferir palavras que não são, propriamente, manifestação de um pensamento formulado pela mente. Usar a língua, a voz, para expressar ao Senhor os sentimentos que vêm do Espírito Santo:

“Quanto ao formal deste carisma e ao seu significado profundo, o dom de línguas:
- é, em primeiro lugar, um carisma para glorificar a Deus (cf. At 2, 4.11; 10, 46);
- é um carisma em virtude do qual o crente fala com Deus ao impulso do Espírito (cf. 1 Cor 14,2.28);
- é um carisma de oração e de louvor (cf. 1 Cor 14,14-15);
- é um carisma de bênção e ação de graça. (Cf. 1 Cor 14,16-17)”.

Para se ter uma idéia mais clara acerca do dom de orar em línguas, veja-se como ele aparece em algumas passagens da Sagrada Escritura: At 2,1-13; 10,44-48; 1 Cor 12,10; 14,4.13.18.39. Ressalte-se, ainda, que em Mc 16, 17 ele está relacionado como um dos milagres que acompanham os que crêem, como uma grande promessa de Jesus. É um “milagre” porque é extraordinário, fora do comum da linguagem humana.
A Igreja indica que a oração em línguas é, verdadeiramente, ação do Espírito; é um dom que provém do Senhor, tem por meta o bem da Igreja e acha-se a serviço da caridade:

“... São, além disso, as graças especiais, designadas também ‘carismas’, segundo a palavra grega empregada por S. Paulo, e que significa favor, dom gratuito, benefício. Seja qual for o seu caráter, às vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas se ordenam à graça santificante e têm como meta o bem comum da Igreja. Acham-se a serviço da caridade, que edificam a Igreja”.

3. Finalidade do dom de línguas

O dom das línguas é uma oração que se faz a Deus, é uma forma de glorificá-lo. Quem ora em línguas não ora aos homens, mas a Deus (cf. 1 Cor 14,2); aquele que se abre ao dom das línguas tem o Espírito Santo orando nele, por ele e com ele (cf. Rm 8, 26-27). O Espírito Santo sabe do que o orante tem necessidade, faz ao Pai o pedido certo e na hora certa, do jeito que Deus quer. Por isso pode-se dizer com fundamento que orar em línguas é “orar no Espírito”, pois é emprestar a mente e a voz para que o Espírito Santo ore. “Assim, ainda que nós não entendamos os gemidos inefáveis (...), Deus sabe o que deseja o Espírito. Apesar da inteligência não assimilar nada, de não compreendermos o que falamos, cantamos ou oramos, sentimos que algo nos toca profundamente (...), sentimos que o mais profundo do nosso ser comunga de maneira especial com Aquele que nos criou e ao qual pertencemos”
O dom das línguas aprofunda a oração e a união com Deus. Trata-se de uma oração individual, mesmo se feita em assembléia. “Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo” (1 Cor 14, 4). Uma ou outra vez, porém, pode assumir a forma de mensagem à comunidade; neste caso necessita da interpretação, como se verá mais adiante, no capítulo quarto. “Segundo afirmação de 1Cor 14, 4, o dom de línguas é um carisma que o Espírito Santo dá para edificação pessoal; no entanto, esta não exclui a finalidade comum que têm todos os carismas, a saber: a edificação mútua, a construção do Corpo de Cristo (cf. 1 Cor 12,7.27-30).
O dom das línguas é um dom para a santificação pessoal. Para orar em línguas, muitas vezes devem-se romper barreiras de medo, dúvidas, incredulidade, respeito humano, influências negativas de pessoas contrárias, apego à auto-imagem e à boa fama. Embora não se compreenda o significado, verifica-­se uma nova dimensão da oração. Poucas frases bastam para que aquele que recebe o dom se sinta envolvido pelo mistério e possuído por um profundo sentimento de alegria e paz. Desta forma, a presença de Deus se torna aconchegante, indiscutível, quase palpável. O dom das línguas favorece a manifestação dos demais dons.
Ao orar em línguas, a pessoa não fica estática, nem entra em transe, mas continua no pleno domínio de suas faculdades, sabendo o que está fazendo, podendo perfeitamente controlar o tom da voz, para estar em harmonia com as demais. A pessoa é livre, podendo começar e terminar quando quer.
 Esta oração não suprime a oração formal, antes a completa e enriquece. Ela exige a atitude de render-se ao Espírito Santo; é como uma porta baixa pela qual só passa quem se curva um pouco. É a esta oração misteriosa, inarticulada, que a pessoa se une, deixando ao próprio Deus o cuidado de glorificar-se e dar-se graças por um amor que supera todo o conhecimento.

4. Tipos de oração em línguas

Há variedade de manifestações do dom das línguas. Duas delas são:

a) Glossolalia

“Um fenômeno que se deu sobretudo na comunidade cristã de Corinto (1 Cor 12, 10; 14, 2-19), mas também nas de Cesaréia e Éfeso (At 10, 46; 19, 6); não é a mesma coisa que o ‘falar outras linguas’ (o milagre de  Pentecostes), mas consistia nisso que a pessoa (...) proferia sons ininteligíveis e palavras sem anexo, que se tornavam compreensíveis apenas para quem possuía o carisma da interpretação (1 Cor 14, 10) (...). Também o milagre de Pentecostes pode ser  interpretado como uma manifestação de g. como indica, p. ex., a impressão que causou nos presentes (At 2, 13) e a citação de Jl 3,1-5. O próprio S. Pedro identifica os fenômenos com os de Cesaréia (At 10, 47; 11, 15; 15, 8). (...) S. Lucas vê no milagre um símbolo da universalidade do evangelho (cf. At 2, 5) que se adapta à natureza de cada um (cf. At 2, 8). Talvez tenha considerado como o inverso da confusão das línguas em Babel”.

b) Xenoglossia

É uma oração em língua desconhecida de quem ora, mas que existe ou já existiu e ainda é do domínio humano, como o latim, por exemplo. Robert DeGrandis diz que “durante uma reunião de oração em Nova Orleans, cidade norte-americana, ouviu uma moça orar em latim, embora não conhecesse esta língua. Ele também registra o fato de uma senhora norte-americana que ao orar em línguas perto de um padre português, sem conhecer sua língua, nela fez a seguinte oração: (Ó Maria, que ascendeste ao mais alto dos céus, ajuda-nos a conhecer o teu Filho)”.

Quanto à tonalidade, a oração em línguas normalmente se apresente como:

a)      Louvor – oração seqüenciada, de palavreado freqüente, onde a pessoa fica “mergulhada” como criança diante de Deus;
b)      Júbilo – oração transbordante, jubilosa e extremamente alegre, quase interminável e sem pausas;
c)      Súplica – oração compassada e em tonalidade penitencial, que leva a frutos de contrição;
d)     Canto (cf. 1 Cor 14, 15) – é também uma espécie de louvor, sendo que em tonalidade musical.

5. A importância do dom das línguas

            O dom de línguas tem, portanto, importância fundamental no enriquecimento espiritual. Ele contribui para a renovação da vida da pessoa, na medida em que se constitui em ação misteriosa e amorosa de Deus. É possível indicar alguns benefícios do dom de línguas:

a)      Favorece a intimidade com Deus, sem necessidade de pensar, formular preces, mas, num abandono confiante, mergulhar nas profundezas do Espírito. “Outras vezes, ao começarmos a orar, também não sabemos como devemos pedir ou dizer a Deus (...). O Espírito Santo, através do dom de línguas, vem em nosso auxílio corrigindo toda esta imperfeição, que existe em nós pelo nosso pecado...”.
b)      Abre a pessoa para os demais carismas, porque mantém o espírito em alerta para o que Deus quer falar ou fazer. Geralmente a palavra de profecia ou a interpretação das línguas vêm durante ou após a oração ou cântico em línguas. Da mesma forma a palavra de ciência, o dom das curas e assim por diante.
c)      Ajuda a orar por determinadas coisas das quais a pessoa foge de colocar na presença de Deus, problemas interiores nos quais prefere não tocar;
d)     É também um dom de unidade entre os cristãos: “Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua” (At 2, 5-6).

Acima de tudo, o dom de línguas auxilia no processo de santificação pessoal, pois submete o espírito ao Espírito, proporcionando uma oração certeira e eficaz.

6. Como receber o dom das línguas

O dom de línguas é para todos os que crêem (cf. Mc 16, 17). Pelo modo como se manifesta, ele pode apresentar-se sem sentido às mentes mais racionais. Mas na medida em que se cede ao dom e abre-se o coração e a mente, as dificuldades vão desaparecendo e o dom se torna um modo a mais de como poder rezar.
Também é necessário que o receptor colabore com o Doador. – o Espírito Santo. A este cabe a moção e a inspiração das palavras enquanto que àquele, o desejo, a aceitação e a decisão de orar: abrir a boca, mover a língua, movimentar os lábios, produzir sons. Diante deste dom, como dos outros, a pessoa deve fazer um ato de fé: ceder à ação do Espírito Santo, pois, sob Sua ação a língua proferirá palavras ininteligíveis:

      “No dom das línguas, você solta os sons, e o Espírito Santo dá o conteúdo. Esta é a sua parte. Por isso, a melhor maneira de orar em línguas é soltar-se no meio dos outros. Se há um grupo orando em línguas, faça o mesmo. Não é assim que o passarinho aprende a voar? Não é assim que aprendemos a nadar? Há muito tempo, peço a Deus que conceda às pessoas a efusão do Espírito Santo. De que forma? Convido a pessoa a orar comigo, da mesma maneira como estou orando. Começo a orar, e a pessoa me acompanha. Não se pode imitar. Cada um deve se soltar, a fim de deixar que o Espírito Santo ore em si. É algo muito fácil e simples”.

7. Conclusão


O dom de línguas foi um dom abundante no início da Igreja. É normal um católico exercê-lo. Ele traz muitos frutos para a vida de oração e de santificação pessoal, favorecendo a intimidade e a comunhão com Deus.
A oração em línguas pode se manifestar de várias formas; o mais importante não é o que se diz e sim o que há no coração do orante em relação a Deus. “Ninguém falando sob a ação divina, pode dizer: ‘Jesus seja maldito’; e ninguém, pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’, senão sob a ação do Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).
                          

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

!!!!!!!!!!!OFICINA DE DONS!!!!!!!!!!!



CARISMAS


“Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16, 17-18).

1. Introdução

Os carismas eram comuns no início da Igreja. Basta ler os Atos dos Apóstolos e as cartas de São Paulo. Depois, por alguns séculos eles se mantiveram restritos aos grandes santos. Assim, pensava-se que os carismas eram para alguns homens e mulheres reconhecidamente santos, místicos e penitentes.
Os carismas, portanto, não são novidades trazidas pela Renovação Carismática Católica, a não ser no aspecto do seu exercício nos tempos atuais. Os grupos de oração tornaram possível a sua manifestação em maior intensidade, percebendo sua qualidade de “dom” para todos os que crerem, conseqüência normal do batismo no Espírito. “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem” (Lc 11,13).
Mas foi o documento conciliar Lumen Gentium que traçou as primeiras diretrizes sobre carismas para os tempos atuais:

“...O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis (...) dirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos. (...) Não é apenas através dos sacramentos e dos ministérios que o Espírito Santo santifica e conduz o Povo de Deus (...), mas, repartindo seus dons a cada um como lhe apraz (1 Cor 12,11), distribui entre os fiéis de qualquer classe mesmo graças especiais (...) Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja. Uma vida mais plena no Espírito Santo, a unção carismática do Espírito, contempla a Igreja com toda uma amplitude de dons.”

Os carismas estão amparados na doutrina da Igreja, além de serem fundamentados biblicamente. Esses dons de adoração, louvor e oração aprofundam a dimensão contemplativa da fé cristã e as dádivas de serviço animam uma vida de santidade. “Todos os carismas trazem nova docilidade ao Espírito, a fé esperançosa na salvadora intervenção de Deus nas questões humanas, acentuado zelo pelo Evangelho e o respeito pela autoridade da Igreja.”
Nesse sentido, é necessário afirmar a atualidade dos carismas e promovê-los como realidades necessárias à evangelização e ao crescimento pessoal de cada cristão. “A vida batizada no Espírito é marcada por uma experiência de união dinâmica com Deus e também por uma experiência de carismas doados pelo Espírito Santo.”
 São Pedro aviva essa esperança: “Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus” (At 2, 39). A promessa é, portanto, para todos os tempos. O exercício dos carismas é tanto mais necessário por causa das dificuldades do tempo presente, marcado pela indiferença religiosa e pelo abandono dos valores espirituais e morais do cristianismo; esse tempo cobra não só um testemunho autêntico dos cristãos convictos, como também demonstrações do poder do Espírito.

Convém abalizar dons efusos, que é matéria deste estudo, dos dons infusos, que também são carismas do Espírito, mas que se distinguem daqueles:

a) Dons infusos - temor de Deus, fortaleza, piedade, conselho, conhecimento, sabedoria e discernimento (cf. Is 11, 1-3). Num total de sete, esses dons são concedidos para a pessoa (infundidos), aprimoram e reforçam as virtudes, constituindo-se em benefícios para o crescimento pessoal;

b) Dons efusos – línguas, profecia, interpretação, ciência, sabedoria, discernimento dos espíritos, cura, fé e milagres (cf. 1 Cor 13, 8-10). Num total de nove, esses dons são para o serviço e o bem comum e são concedidos como manifestações atuais, de acordo com a vontade de Deus.

            Aqui serão estudados os carismas efusos, que são realidades manifestas nos grupos de oração da Renovação Carismática, constituindo-se num dos aspectos de sua identidade

DONS INFUSOS E EFUSOS
Os dons infusos, ou crismais, são: Temor de Deus, fortaleza, piedade, conselho, conhecimento, sabedoria e discernimento. Num total de sete, esses dons são concedidos para a pessoa para aprimorar as virtudes, e para o crescimento pessoal. (Is, 11,1-7)
Os Dons Carismáticos ou efusos nos os recebemos quando acolhemos a efusão do Espírito Santo. Por isso são chamados de dons efusos, isto é, dons que são derramados em nós juntamente com a efusão do Espírito Santo. Permanecem em nós à medida que nos abrimos ao Espírito Santo e à manifestação deles
São para o serviço da comunidade, para a evangelização.
Capacitam-nos para anunciarmos o Evangelho com a autoridade de Jesus e com eficácia.

Os dons efusos são: línguas, profecia, interpretação, ciência, sabedoria, discernimento dos espíritos, cura, fé e milagres. São nove, os mais comuns em Corinto, não sendo os únicos, esses dons também são conhecidos como carismas e São Paulo os chama de “manifestação do Espírito Santo dado a cada um para proveito comum” (1Cor 12,7).
Semelhanças
Mesma fonte: O ESPÍRITO SANTO.
São dádivas de Deus. Não dependem de nosso merecimento, mas sim dos méritos (dos merecimentos) de nosso Senhor Jesus Cristo.
Diferenças
DONS DE SANTIFICAÇÃO:
O Espírito Santo não espera a manifestação de nossa vontade para dá-los a nós (Os recebemos desde criancinha, no nosso batismo, bem como no momento da crisma, que confirma o nosso batismo). Estão infundidos em nós para serem usados a qualquer tempo. Entretanto o Espírito Santo espera a adesão de nossa vontade para pô-los em operação
São para nossa santificação.
Capacitam-nos para sermos testemunhas de Cristo.

DONS CARISMÁTICOS
Os recebemos quando acolhemos a efusão (derramamento) do Espírito Santo. Por isso são chamados de dons efusos, isto é, dons que são derramados em nós juntamente com a efusão do Espírito Santo. Permanecem em nós à medida que nos abrimos ao Espírito Santo e à manifestação deles


Os carismas são dons, graças, presentes, dados pelo Espírito Santo, “mas um e o mesmo Espírito distribui todos esses dons, repartindo a cada um como lhe apraz(1 Cor 12,11):

“A palavra ‘carisma’ (chárisma) é oriunda da língua grega e significa ‘dom gratuito’. Ela encontra seu significado fundamental na raiz ‘char’- que indica tudo aquilo que produz bem-estar; assim é que temos cháris, querendo significar ‘graça’, ‘dom’, ‘favor’, ‘bondade’; charízomai, no sentido de fazer um dom gratuito, mostrar-se generoso. O sufixo ‘-ma’ exprime na língua grega o resultado da ação indicada pelo verbo, o seu efeito, o que pode denotar também o caráter objetivo da concessão e da experiência da graça. Portanto, o significado geral e fundamental de ‘chárisma’ poderia ser: dom concedido por pura benevolência, que é, ao mesmo tempo, o objetivo e o resultado da graça divina, do presente que Deus faz aos homens”

Em sentido restrito, os carismas são manifestações extraordinárias do Espírito Santo para proveito comum. Eles exercem papel fundamental na evangelização, ou seja, na expansão do cristianismo, o que reforça sua importância e dignidade. O padre Luiz Fernando R. Santana aprofunda o assunto e alerta:

“A maciça presença de chárisma nos escritos de Paulo já é suficiente para mostrar quanto o termo, em seu significado e conteúdo, era caro para a teologia do apóstolo. Desde o início de seu apostolado, Paulo tem em alta estima a presença e ação dos dons e carismas do Espírito na vida da Igreja e dos fiéis batizados, até mesmo exortando a comunidade a que tivesse o cuidado de não extinguir o Espírito, de não desprezar as profecias, mas de verificar tudo com um discernimento sábio e sóbrio (Cf. 1 Ts 5, 19-22). Disso inferimos que, para Paulo, os carismas e os ministérios são os instrumentais privilegiados na edificação do Corpo de Cristo e na realização do desígnio de Deus na história; ambas as realidades possuem igual importância e dignidade, uma vez que emanam do mesmo Espírito e estão ordenadas, cada uma naquilo que lhe é específico, a um mesmo fim. Ainda podemos deduzir que existe uma interdependência no que diz respeito à relação ‘carismas-ministérios’, o que faz com que a dimensão carismática da Igreja na teologia paulina seja um tema de primeira grandeza.”

      Pelo seu próprio caráter, dom não implica santidade. Na verdade, qualquer pessoa pode receber os presentes de Deus (cf. At 10, 34). Porém, não se pode esquecer que quem não tem vida espiritual e reta intenção de agradar a Deus, certamente usará mal os carismas, pois não cultiva a necessária união com Cristo (cf. Jo 15, 4-5), para querer o que Deus quer.

3. Quando utilizar os carismas

É difícil precisar em que momentos utilizar os carismas do Espírito. O seu exercício deve se dá sempre, notadamente quando as situações o exigirem. Sendo a graça do Espírito uma realidade perene na vida humana, os carismas por sua vez, tornam-se também profusamente inseridos na vida daqueles que foram batizados.
No entanto, é preciso dizer que os carismas são realidades atuais e não adquiridas por posse. É o Espírito que opera tudo em todos (cf. 1 Cor 12, 6-7), a seu querer. Assim, “a um, o Espírito dá uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, a fé no mesmo Espírito; a outro, o dom das curas, nesse único Espírito; a outro, o operar milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o falar diversas línguas, a outro ainda o interpretar essas línguas” (1Cor 12,8-10). Não seria justo, portanto, atribuir a uma pessoa ou grupo de pessoas específico a contenção exclusiva de qualquer manifestação carismática; nem mesmo se pode dizer que alguém “tem” este ou aquele dom, pois cada manifestação é única, mesmo que se processe com muita freqüência através de determinadas pessoas. Talvez ao dom de línguas possa se atribuir um caráter mais perene e sob controle, por se tratar de um dom de oração, mais para edificação pessoal (cf. 1 Cor 14, 4).
Contudo, não se pode cair no equívoco de reduzir os dons do Espírito a algumas ocasiões especiais. Eles foram dados em profusão nos tempos atuais. Pode ser cultivada uma constante expectativa em relação à sua manifestação, como para o derramamento do Espírito
Peculiarmente, a ação evangelizadora constitui um momento preciso de vivência dos dons efusos. A missão da Renovação Carismática Católica é evangelizar a partir do batismo no Espírito Santo, formando o povo de Deus em santidade e serviço. Para evangelizar o povo de Deus com unção e poder são necessários os carismas. Quando utilizados de forma livre, consciente, na hora necessária, levam as pessoas a terem uma experiência da presença real de Deus, que manifesta o seu infinito amor:

“A ‘força do Espírito Santo’ (At 1, 8) derramada nos corações dos cristãos, manifestação do amor e do poder de Deus, provoca uma significativa diferença entre a ação evangelizadora de uma pessoa que se deixa conduzir por ela e uma que age sem ela. Aquele que evangeliza com os dons carismáticos multiplica as possibilidades humanas. A investidura carismática em comunidades da Igreja, em todo mundo, tem gerado e sustentado grande número de evangelistas dedicados e eficientes, com novo vigor, com nova capacitação, nova alegria, novo jubilo, nova exaltação e louvor, levando em si o poder transformador do Espírito (Cf. 1 Cor 2, 1-5) que toca crianças, jovens, adultos e idosos de todo tipo de raça e cultura.”

O uso dos carismas não é só um direito, é um dever de todos os fiéis. “Da aceitação destes carismas, mesmo dos mais simples, nasce em favor de cada um dos fiéis (...) o dever de exercê-los para o bem dos homens e a edificação da Igreja dentro da Igreja e do mundo”.
Pode-se constatar na prática apostólica que, quando a evangelização é acompanhada de carismas, colhem-se frutos abundantes: os carismas fazem diferença e são eficazes na evangelização, quando exercidos na caridade.

4. Os dons efusos e a caridade

Jesus deu o mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15, 12.17). São Paulo apresenta o trabalho apostólico realizado no amor. Não um amor qualquer, mas o amor “ágape”, amor doação a Cristo e aos irmãos:

      “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade” (1Cor 13,1-3.9s.13).

Os capítulos 12 a 14 da carta aos Coríntios, que tratam dos carismas e suas manifestações, são verdadeiros referenciais para se viver a vida nova, guiada pelo Espírito Santo, exercendo os seus dons de maneira autêntica e frutuosa. Eles contêm regras básicas e orientações seguras. Outras recomendações podem ser encontradas em Ef 4, 15.30; Rm 12, 6-8; 13, 8-10; e 1 Tess 5, 14-15. 19-21.
Jesus dá a regra para verificar o valor do trabalho: “Pelos frutos os conhecereis” (Mt 7,16). São Paulo também fala: “o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5,22-23). Dessa forma, o bom uso dos carismas é garantido pelo amor, que é o dom por excelência e que atribui sentido aos outros dons. Os carismas, portanto, são fundamentados na caridade:
     
“Sejam extraordinários, sejam simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial, ordenados que são à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo. Os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja. São uma maravilhosa riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo, desde que se trate de dons que provenham verdadeiramente do Espírito Santo  e que sejam exercidos de maneira plenamente conforme aos impulsos autênticos deste mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade, verdadeira medida dos carismas”.

5. Os carismas devem ser pedidos com fé e exercidos na humildade

            É exatamente por causa do amor que os dons efusos devem ser almejados. “Empenhai-vos em procurar a caridade”, encoraja São Paulo (cf. 1 Cor 14, 1a); e acrescenta: “aspirai igualmente os dons espirituais, mas sobretudo ao da profecia” (cf. 1 Cor 14, 1b). A motivação deve ser o uso em benefício dos outros, para ajudar o povo de Deus a alcançar a santidade.
            Por isso, os carismas devem ser pedidos com fé e sem temor. Embora eles sejam distribuídos conforme apraz ao Espírito, nada impede que o crente aspire e peça os dons, para que seu testemunho seja permeado de sinais (cf. 1 Cor 2, 4-5). “Só aqueles que reconhecem o valor dos dons na sua vida cristã e no serviço aos irmãos são impulsionados a pedi-los ao Pai, como Jesus mesmo nos ensinou: ‘Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater se lhe abrirá’ (Lc 11,9-10)”.
            Para o exercício prático dos carismas, não se deve esquecer três coisas fundamentais:

a) Humildade

            É preciso vigiar para não cair na tentação de achar que os dons são méritos alcançados, recompensas de Deus por esforços desmedidos. A humildade faz perceber que o cristão é um administrador dos bens do Senhor (cf. Lc 16, 1-3) e que nenhum “carismático” se basta a si mesmo. Deus constituiu a Igreja como um corpo (cf. 1 Cor 12, 12-29), de tal maneira que um carisma só se plenifica no conjunto da comunidade. “Exercer os carismas na humildade é exercê-los sem exibicionismo, sem buscar prestígio, honra, poder. (...) É também exercê-los sem auto-suficiência (cf. Mt 18,3-4), sem individualismo, sabendo que necessitamos da ajuda dos irmãos para confirmar ou discernir a vontade de Deus para o seu povo...”.

b) Harmonia

            O exercício dos carismas, sobretudo nas reuniões de oração, deve obedecer a um ritmo harmônico, jamais exaltado ou demasiadamente estrondoso (cf. 1 Cor 14, 26-27). A força de um carisma não consiste na tonalidade que lhe é imposta ou no tipo de expressão que o acompanha, mas na utilidade objetiva que tem para a comunidade.
            Assim, embora marcados pela espontaneidade e expressividade, os carismas se inserem na vida cristã sem causar escândalos. “Porquanto, Deus não é Deus de confusão, mas de paz” (1 Cor 14, 33).
            O uso dos carismas será tanto mais saudável e útil quanto as pessoas que a eles se abrirem forem equilibradas emocionalmente e orantes o suficiente para saber distinguir a ação do Espírito de eventuais devaneios da pessoa humana. É necessário ter respeito pelos dons de Deus; “não podemos exercê-los irresponsável e indiferentemente, com desprezo, de forma inconseqüente, olhando os nossos próprios interesses, ou dando aos carismas um relevo tão singular e único como se fossem bens totais e absolutos sobre os quais não há nada mais excelente e primeiro”.

c) Ordem

            A ordem no exercício dos carismas é uma extensão da harmonia, mas supõe autoridade e obediência. O cristão pode ser instrumento da manifestação autêntica do Espírito Santo, mas não deve esquecer que até o espírito dos profetas deve estar-lhes submissos (cf. 1 Cor 14, 32).
            São Paulo esclarece nos seguintes termos: “Quanto aos profetas, falem dois ou três e os outros julguem. Se for feita uma revelação a algum dos assistentes, cale-se o primeiro. Todos, um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e serem todos exortados” (1 Cor 14, 29-31 – grifos nossos). O mecanismo que garante a ordem na manifestação dos carismas é, portanto, a confirmação, de maneira que os carismas individuais sejam abonados comunitariamente. Dessa forma, os dons são ordenados para a obediência, saindo do plano meramente individual, compondo a realidade conjunta do povo de Deus.
            Portanto, os carismas devem ser exercidos na obediência a Cristo e às autoridades constituídas. “Mas faça-se tudo com dignidade e ordem” (1 Cor 14, 40).

6. Palavra da Igreja

É oportuno destacar algumas asserções do Magistério da Igreja em relação aos carismas e seu uso:

a) “O Espírito Santo, ao confiar à Igreja-comunhão os diversos ministérios, enriquece-a com outros dons e impulsos especiais, chamados carismas. Podem assumir as mais variadas formas, tanto como expressão da liberdade absoluta do Espírito que os distribui, como em resposta às múltiplas exigências da história da Igreja. A descrição e a classificação que os textos do Novo Testamento fazem desses dons são um sinal da sua grande variedade...”:

b) “Os carismas, sejam extraordinários ou simples e humildes, são graças do Espírito Santo que têm, direta ou indiretamente, uma utilidade eclesial, ordenados como são à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo.Também em nossos dias não falta o florescer de diversos carismas entre os fiéis leigos, homens e mulheres. São dados ao indivíduo, mas também podem ser partilhados por outros, e de tal modo perseveram no tempo como uma herança preciosa e viva, que geram uma afinidade espiritual entre as pessoas.

c) “Para exercerem este apostolado (os leigos), o Espírito Santo, que opera a santificação do povo de Deus por meio do ministério e dos sacramentos, concede também aos fiéis dons particulares (cf. 1 Cor 12,7), ‘distribuindo-os por cada um conforme lhe apraz’ (1 Cor 12,7-11), a fim de que ‘cada um ponha em serviço dos outros a graça que recebeu’, e todos atuem ‘como bons administradores da multiforme graça de Deus’ (1 Pd 4,10), para a edificação, no amor, do corpo todo. (cf. Ef 4,16). (...) Nenhum carisma está dispensado da sua referência e dependência dos pastores da Igreja. O Concílio escreve com palavras claras que o juízo acerca da sua (dos carismas) autenticidade e reto uso pertence àqueles que presidem a Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito, mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. 1Ts 5,12 e 19-21), de modo que todos os carismas concorram, na sua diversidade e complementaridade, para o bem comum”

As palavras da Igreja tiram o medo e as dúvidas quanto à necessidade e utilidade dos carismas, bem como o direito que os fiéis leigos têm de usá-los para o bem comum. O Catecismo da Igreja Católica segue a mesma firme orientação:

“O Espírito Santo é o principio de toda ação vital e verdadeiramente salutar em cada uma das diversas partes do corpo. Ele opera de múltiplas maneiras a edificação do corpo inteiro na caridade, pela Palavra de Deus (...) pelas virtudes, que fazem agir segundo o bem, e enfim pelas múltiplas graças especiais (chamadas de ‘Carismas’), através das quais ‘torna os fiéis aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja”.

7. Conclusão

É importante tomar consciência de que todo bem, todo dom, todo serviço prestado ao Reino de Deus em nome de Jesus, acontece sob a ação do Espírito Santo. Sem ele nada é eficaz para o Reino de Deus. “Nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito”.
Em certo sentido, foi a Renovação Carismática que resgatou, no ambiente católico, a necessidade do uso dos carismas. Por isso, os grupos de oração não devem ter medo nem resistir aos dons do Espírito, mas procurar conhecê-los cada vez mais para bem utilizá-los.

VAMOS ORAR:
É hora de intensificarmos nosso pedido: Vinde, Espírito Santo! Vinde sobre nós pessoalmente. Vinde sobre toda Igreja. Vinde sobre toda a cristandade. Nesta semana de Oração pela unidade dos cristãos Vinde sobre nós católicos, sobre os Ortodoxos, sobre os Evangélicos. Vinde sobre a humanidade inteira. Rezemos clamando nestes dias de preparação para a Solenidade de Pentecostes os sete dons do Espírito de Deus: SABEDORIA, INTELIGÊNCIA, CONSELHO, FORTALEZA, CIÊNCIA, PIEDADE E TEMOR DE DEUS,LÍNGUAS, PROFECIA, INTERPRETAÇÃO, CIÊNCIA, SABEDORIA, DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS, CURA, FÉ E MILAGRES.  
FAÇA A SUA ORAÇÃO PESSOAL TBM PEDINDO OS DONS SO SENHOR JESUS Q ELE TE OUVIRÁ

AMEM