O dom das línguas
1. Introdução
Neste capítulo serão vistas e estudadas as três modalidades do carisma da variedade das línguas que são: o orar, o falar e o cantar em línguas. Além disso, serão abordados os principais aspectos de sua manifestação e o fundamento bíblico e doutrinário.
Algumas pessoas pensam e dizem que o dom das línguas é o menor e o mais insignificante de todos. Porém, São Paulo escreve: “Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito” (1 Cor 14,2). Ora, o Espírito orando no homem será pouca coisa? “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus” (Rm 8, 26-27).
Talvez o mais difícil, principalmente para alguns, seja abandonar-se para que o Espírito ore através de sua própria voz com “gemidos inefáveis”. Alguns precisam renunciar a auto-suficiência e submeter-se à ação do Espírito Santo. Mas vale a pena! O gozo inefável que o mesmo Espírito traz com sua presença, a paz profunda que só Deus pode dar, a certeza de que Ele ora da melhor forma, são benefícios certos e imprescindíveis para o crescimento espiritual.
O grande desejo de S. Paulo é manifestado assim: "De minha parte, desejaria que todos falásseis em línguas..." (1 Cor 14,5). É a esta oração misteriosa, inarticulada, que a pessoa se une, deixando ao próprio Deus o cuidado de glorificar-se e dar-se graças por um amor que supera todo o conhecimento. Esta oração contém um caminho de enriquecimento espiritual, um título da graça. Na medida em que cresce a oração, modifica-se a vida pela ação amorosa e misteriosa de Deus.
No pentecostes aconteceu a primeira manifestação do dom das línguas de que se tem conhecimento. São Lucas narrou com muito entusiasmo: “Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2, 4). Depois do pentecostes, o dom das línguas difundiu-se também entre todos os cristãos: “Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram vendo que o dom do Espírito Santo era derramado também sobre os pagãos; pois eles os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus” (At 10, 46). “E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas” (At 19, 6).
2. Conceito
O dom das línguas é uma oração feita por meio de sons emitidos, movidos por inspiração e que o Espírito Santo lhes dá o sentido. Não se trata de língua, no sentido que apresenta a lingüística, porque não há conceitos humanos, mesmo desconhecidos. Consiste em dizer palavras sem conhecer-lhes o significado. Proferir palavras que não são, propriamente, manifestação de um pensamento formulado pela mente. Usar a língua, a voz, para expressar ao Senhor os sentimentos que vêm do Espírito Santo:
“Quanto ao formal deste carisma e ao seu significado profundo, o dom de línguas:
- é, em primeiro lugar, um carisma para glorificar a Deus (cf. At 2, 4.11; 10, 46);
- é um carisma em virtude do qual o crente fala com Deus ao impulso do Espírito (cf. 1 Cor 14,2.28);
- é um carisma de oração e de louvor (cf. 1 Cor 14,14-15);
Para se ter uma idéia mais clara acerca do dom de orar em línguas, veja-se como ele aparece em algumas passagens da Sagrada Escritura: At 2,1-13; 10,44-48; 1 Cor 12,10; 14,4.13.18.39. Ressalte-se, ainda, que em Mc 16, 17 ele está relacionado como um dos milagres que acompanham os que crêem, como uma grande promessa de Jesus. É um “milagre” porque é extraordinário, fora do comum da linguagem humana.
A Igreja indica que a oração em línguas é, verdadeiramente, ação do Espírito; é um dom que provém do Senhor, tem por meta o bem da Igreja e acha-se a serviço da caridade:
“... São, além disso, as graças especiais, designadas também ‘carismas’, segundo a palavra grega empregada por S. Paulo, e que significa favor, dom gratuito, benefício. Seja qual for o seu caráter, às vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas se ordenam à graça santificante e têm como meta o bem comum da Igreja. Acham-se a serviço da caridade, que edificam a Igreja”.
3. Finalidade do dom de línguas
O dom das línguas é uma oração que se faz a Deus, é uma forma de glorificá-lo. Quem ora em línguas não ora aos homens, mas a Deus (cf. 1 Cor 14,2); aquele que se abre ao dom das línguas tem o Espírito Santo orando nele, por ele e com ele (cf. Rm 8, 26-27). O Espírito Santo sabe do que o orante tem necessidade, faz ao Pai o pedido certo e na hora certa, do jeito que Deus quer. Por isso pode-se dizer com fundamento que orar em línguas é “orar no Espírito”, pois é emprestar a mente e a voz para que o Espírito Santo ore. “Assim, ainda que nós não entendamos os gemidos inefáveis (...), Deus sabe o que deseja o Espírito. Apesar da inteligência não assimilar nada, de não compreendermos o que falamos, cantamos ou oramos, sentimos que algo nos toca profundamente (...), sentimos que o mais profundo do nosso ser comunga de maneira especial com Aquele que nos criou e ao qual pertencemos”
O dom das línguas aprofunda a oração e a união com Deus. Trata-se de uma oração individual, mesmo se feita em assembléia. “Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo” (1 Cor 14, 4). Uma ou outra vez, porém, pode assumir a forma de mensagem à comunidade; neste caso necessita da interpretação, como se verá mais adiante, no capítulo quarto. “Segundo afirmação de 1Cor 14, 4, o dom de línguas é um carisma que o Espírito Santo dá para edificação pessoal; no entanto, esta não exclui a finalidade comum que têm todos os carismas, a saber: a edificação mútua, a construção do Corpo de Cristo (cf. 1 Cor 12,7.27-30).
O dom das línguas é um dom para a santificação pessoal. Para orar em línguas, muitas vezes devem-se romper barreiras de medo, dúvidas, incredulidade, respeito humano, influências negativas de pessoas contrárias, apego à auto-imagem e à boa fama. Embora não se compreenda o significado, verifica-se uma nova dimensão da oração. Poucas frases bastam para que aquele que recebe o dom se sinta envolvido pelo mistério e possuído por um profundo sentimento de alegria e paz. Desta forma, a presença de Deus se torna aconchegante, indiscutível, quase palpável. O dom das línguas favorece a manifestação dos demais dons.
Ao orar em línguas, a pessoa não fica estática, nem entra em transe, mas continua no pleno domínio de suas faculdades, sabendo o que está fazendo, podendo perfeitamente controlar o tom da voz, para estar em harmonia com as demais. A pessoa é livre, podendo começar e terminar quando quer.
Esta oração não suprime a oração formal, antes a completa e enriquece. Ela exige a atitude de render-se ao Espírito Santo; é como uma porta baixa pela qual só passa quem se curva um pouco. É a esta oração misteriosa, inarticulada, que a pessoa se une, deixando ao próprio Deus o cuidado de glorificar-se e dar-se graças por um amor que supera todo o conhecimento.
4. Tipos de oração em línguas
Há variedade de manifestações do dom das línguas. Duas delas são:
a) Glossolalia
“Um fenômeno que se deu sobretudo na comunidade cristã de Corinto (1 Cor 12, 10; 14, 2-19), mas também nas de Cesaréia e Éfeso (At 10, 46; 19, 6); não é a mesma coisa que o ‘falar outras linguas’ (o milagre de Pentecostes), mas consistia nisso que a pessoa (...) proferia sons ininteligíveis e palavras sem anexo, que se tornavam compreensíveis apenas para quem possuía o carisma da interpretação (1 Cor 14, 10) (...). Também o milagre de Pentecostes pode ser interpretado como uma manifestação de g. como indica, p. ex., a impressão que causou nos presentes (At 2, 13) e a citação de Jl 3,1-5. O próprio S. Pedro identifica os fenômenos com os de Cesaréia (At 10, 47; 11, 15; 15, 8). (...) S. Lucas vê no milagre um símbolo da universalidade do evangelho (cf. At 2, 5) que se adapta à natureza de cada um (cf. At 2, 8). Talvez tenha considerado como o inverso da confusão das línguas em Babel”.
b) Xenoglossia
É uma oração em língua desconhecida de quem ora, mas que existe ou já existiu e ainda é do domínio humano, como o latim, por exemplo. Robert DeGrandis diz que “durante uma reunião de oração em Nova Orleans, cidade norte-americana, ouviu uma moça orar em latim, embora não conhecesse esta língua. Ele também registra o fato de uma senhora norte-americana que ao orar em línguas perto de um padre português, sem conhecer sua língua, nela fez a seguinte oração: (Ó Maria, que ascendeste ao mais alto dos céus, ajuda-nos a conhecer o teu Filho)”.
Quanto à tonalidade, a oração em línguas normalmente se apresente como:
a) Louvor – oração seqüenciada, de palavreado freqüente, onde a pessoa fica “mergulhada” como criança diante de Deus;
b) Júbilo – oração transbordante, jubilosa e extremamente alegre, quase interminável e sem pausas;
c) Súplica – oração compassada e em tonalidade penitencial, que leva a frutos de contrição;
d) Canto (cf. 1 Cor 14, 15) – é também uma espécie de louvor, sendo que em tonalidade musical.
5. A importância do dom das línguas
O dom de línguas tem, portanto, importância fundamental no enriquecimento espiritual. Ele contribui para a renovação da vida da pessoa, na medida em que se constitui em ação misteriosa e amorosa de Deus. É possível indicar alguns benefícios do dom de línguas:
a) Favorece a intimidade com Deus, sem necessidade de pensar, formular preces, mas, num abandono confiante, mergulhar nas profundezas do Espírito. “Outras vezes, ao começarmos a orar, também não sabemos como devemos pedir ou dizer a Deus (...). O Espírito Santo, através do dom de línguas, vem em nosso auxílio corrigindo toda esta imperfeição, que existe em nós pelo nosso pecado...”.
b) Abre a pessoa para os demais carismas, porque mantém o espírito em alerta para o que Deus quer falar ou fazer. Geralmente a palavra de profecia ou a interpretação das línguas vêm durante ou após a oração ou cântico em línguas. Da mesma forma a palavra de ciência, o dom das curas e assim por diante.
c) Ajuda a orar por determinadas coisas das quais a pessoa foge de colocar na presença de Deus, problemas interiores nos quais prefere não tocar;
d) É também um dom de unidade entre os cristãos: “Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua” (At 2, 5-6).
Acima de tudo, o dom de línguas auxilia no processo de santificação pessoal, pois submete o espírito ao Espírito, proporcionando uma oração certeira e eficaz.
6. Como receber o dom das línguas
O dom de línguas é para todos os que crêem (cf. Mc 16, 17). Pelo modo como se manifesta, ele pode apresentar-se sem sentido às mentes mais racionais. Mas na medida em que se cede ao dom e abre-se o coração e a mente, as dificuldades vão desaparecendo e o dom se torna um modo a mais de como poder rezar.
Também é necessário que o receptor colabore com o Doador. – o Espírito Santo. A este cabe a moção e a inspiração das palavras enquanto que àquele, o desejo, a aceitação e a decisão de orar: abrir a boca, mover a língua, movimentar os lábios, produzir sons. Diante deste dom, como dos outros, a pessoa deve fazer um ato de fé: ceder à ação do Espírito Santo, pois, sob Sua ação a língua proferirá palavras ininteligíveis:
“No dom das línguas, você solta os sons, e o Espírito Santo dá o conteúdo. Esta é a sua parte. Por isso, a melhor maneira de orar em línguas é soltar-se no meio dos outros. Se há um grupo orando em línguas, faça o mesmo. Não é assim que o passarinho aprende a voar? Não é assim que aprendemos a nadar? Há muito tempo, peço a Deus que conceda às pessoas a efusão do Espírito Santo. De que forma? Convido a pessoa a orar comigo, da mesma maneira como estou orando. Começo a orar, e a pessoa me acompanha. Não se pode imitar. Cada um deve se soltar, a fim de deixar que o Espírito Santo ore em si. É algo muito fácil e simples”.
7. Conclusão
O dom de línguas foi um dom abundante no início da Igreja. É normal um católico exercê-lo. Ele traz muitos frutos para a vida de oração e de santificação pessoal, favorecendo a intimidade e a comunhão com Deus.
A oração em línguas pode se manifestar de várias formas; o mais importante não é o que se diz e sim o que há no coração do orante em relação a Deus. “Ninguém falando sob a ação divina, pode dizer: ‘Jesus seja maldito’; e ninguém, pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’, senão sob a ação do Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).
Oh poder! xD Esse blog tah muito bom! Principalmente a apresentação lá em cima! A nossa blusa pode ser assim... ^^ AQUI TEM JOVEM, AQUI TEM FOGO! SHARABADAI!
ResponderExcluirBUEN DIA GENTE BONITA. Muy temprano por la mañana mi madre me pregunto, cual es el significado de SHARABADAI. Por lo cual acudí al traductor de GOOGLE pero no encontré su significado. Alguien podría ayudarme a responderle a mi madre. Muy agradecida me despido. Mi correo es azeret_ms@hotmail.com
ResponderExcluirEles escrevem e falam sharabadai sem saber o significado prezado anônimo
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