A Devoção de
Martinho Lutero a Maria
Apesar do
atual preconceito protestante no que diz respeito aos tradicionais artigos de
fé católicos, como a Comunhão dos Santos, confissão auricular, Purgatório,
Papado, sacerdócio, matrimônio sacramental etc, pode surpreender a muitos
descobrir que Martinho Lutero era um profundo conservador em algumas de suas
posições doutrinais, como na regeneração batismal, na eucaristia e,
particularmente, em relação à Bem-Aventurada Virgem Maria.
Lutero era
completamente devotado a Nossa Senhora, e crente em todas as doutrinas
tradicionais marianas. É certo que esta constatação não é muito freqüente nas
biografias protestantes sobre o reformador, contudo, é um fato irrefutavelmente
verdadeiro. Parece ser uma tendência natural que os discípulos atuais do
Protestantismo procurem se projetar no perfil do fundador do movimento que
seguem. Saber que o Luteranismo de hoje não tem uma Mariologia muito
consistente, leva-nos a supor que também Lutero tivesse – ele mesmo – opiniões
similares com relação a este ponto.
Todavia, nós
veremos, por meio de fontes escritas pelo próprio Lutero, que os fatos
históricos são bem diferentes. Para tal, nós consideraremos citações do
ex-monge nos vários aspectos da doutrina Mariana.
Lutero (bem
como os principais reformadores, por exemplo, Calvino, Zwingli, Cranmer)
aceitava a opinião de que Jesus não possuía nenhum irmão de sangue, crendo
também na doutrina tradicional da Perpétua Virgindade de Maria, e reconhecendo
seu status como Teotokos (Mãe de Deus):
“Cristo era o único filho de Maria. Das entranhas
de Maria, nenhuma criança além dEle. Os ‘irmãos’ significam realmente ‘primos’
aqui: a Sagrada Escritura e os judeus sempre chamaram os primos de ‘irmãos’.” (Martinho Lutero, Sermões sobre João 1-4, 1534-39)
“Cristo, nosso Salvador, foi o fruto real e natural
do ventre virginal de Maria. Isto se deu sem a cooperação de um homem,
permanecendo virgem depois do parto.” (Martinho
Lutero, idem.)
“Deus diz: ‘o filho de Maria é meu Filho somente.’
Desta forma, Maria é a Mãe de Deus.” (Martinho
Lutero, Ibidem)
“Deus não recebeu sua divindade de Maria; todavia,
não segue que seja conseqüentemente errado afirmar que Deus foi carregado por
Maria, que Deus é filho de Maria, e que Maria é a Mãe de Deus. Ela é a Mãe
verdadeira de Deus, a portadora de Deus. Maria amamentou o próprio Deus; ele
foi embalado para dormir por ela, foi alimentado por ela, etc. Para o Deus e
para o Homem, uma só pessoa, um só filho, um só Jesus, e não dois Cristos.
Assim como o seu filho não são dois filhos... Mesmo que tenha duas naturezas.” (Martinho Lutero, “Nos Conselhos e na Igreja”, em 1539)
Provavelmente,
a opinião mariana mais antagonista de Lutero, seja a aceitação da Imaculada
Conceição de Maria que, na época, ainda não era artigo de fé, que só aconteceu
em 1854 na Igreja Católica. A respeito deste fato há um questionamento: sobre
os aspectos técnicos das teorias medievais sobre a concepção e sobre a alma
teriam se alterado mais tarde em Lutero? Para alguns teólogos eminentes do Luteranismo,
como Arthur Carl Piepkorn (1907-1973) do Seminário Concórdia em São Luis, nos
Estados Unidos, mantêm a aceitação da doutrina:
“É uma opinião doce e piedosa que a infusão da alma
de Maria ocorreu sem o pecado original; de modo que, ao infundir a sua alma
imune ao pecado original, foi adornada com presentes de Deus, recebendo uma
alma pura, infusa por Deus; assim, desde o primeiro momento em que começou a
viver ela esteve livre de todo o pecado.” (Sermão: “No
dia da concepção da Mãe de Deus,” Dezembro [?] 1527, de Hartmann Grisar, S.J. Luther,
da tradução da versão do alemão para o inglês por E.M. Lamond, editado por
Luiggi Coppadelta, Londres: Kegan Paul, trincheira, Trubner, primeira edição,
1915, Vol. IV [ de 6 ], p. 238; revisado por Werke alemão, Erlangen,
1826-1868, editado por J.G. Plochmann e J.A. Irmischer, editado por L. Enders,
Francoforte, 1862 ff., 67 volumes; citação 15 2 , p. 58)
“É cheia de graça, proclamada para ser inteiramente
sem pecado, algo tremendamente grande. Para que fosse cheia pela graça de Deus
com tudo de bom e para fazê-la vitoriosa sobre o diabo.” (Martinho Lutero, Livro Pessoal de Oração, 1522)
Uma das
referências mais antigas à Imaculada Conceição aparecem no seu Sermão de
Casa no Natal (1533) e em De Encontro ao Papado de Roma (1545).
Lutero não acreditava que esta doutrina deveria ser imposta a todos os crentes,
por achar que a Bíblia não ensina explicita e formalmente sobre o assunto. Isso
se justifica pela sua teoria da “Sola Scriptura”. Mas, ele mesmo acreditava na
Assunção corpórea de Maria ao céu – crença que nunca renegou, embora criticasse
excessos na celebração desta festa. No seu sermão em 15 de agosto de 1522,
quando pregava pela última vez na festa da Assunção, afirmou:
“Não se pode haver nenhuma dúvida que a Virgem
Maria está no céu. Como isso aconteceu, nós não sabemos. E já que o Espírito
Santo não nos revelou nada sobre isso, não podemos fazer disso um artigo de fé.
É suficiente sabermos que ela vive em Cristo.”
Lutero
era favorável à pratica devocional da veneração a Maria e expressou isso em
inúmeras ocasiões com veemência:
“A veneração de Maria está inscrita no mais
profundo do coração humano.” (Martinho
Lutero, Sermão em 1º de setembro de 1522.)
“Maria é a mulher mais elevada e a pedra preciosa
mais nobre no Cristianismo depois de Cristo... Ela é a nobreza, a sabedoria e a
santidade personificadas. Nós não poderemos jamais honrá-la o bastante.
Contudo, a honra e os louvores devem ser dados de tal forma que não ferem a
Cristo nem às Escrituras.”
(Martinho Lutero, Sermão na Festa da Visitação em 1537.)
“Nenhuma mulher é como tu! És mais que Eva ou Sara,
sobretudo, pela nobreza, bem-aventurança, sabedoria e santidade!” (Martinho Lutero, Sermão na Festa da Visitação em 1537.)
“Devemos honrar Maria como ela mesma desejou e
expressou no Magnificat. Louvou a Deus por suas obras. Como, então, podemos nós
a exaltá-la? A honra verdadeira de Maria é a honra a Deus, louvor à graça de
Deus. Maria não é nada para si mesma, mas para a causa de Cristo. Maria não
deseja com isso que nós a contemplemos, mas, através dela, Deus.” (Martinho Lutero, Explicação do Magnificat, em 1521.)
Lutero vai
além: dá à Bem-Aventurada Virgem Exaltada a posição de “Mãe Espiritual” para os
cristãos.
“É a consolação e a bondade superabundante de Deus,
o homem pode exultar por tal tesouro: Maria é sua verdadeira mãe, Jesus é seu
irmão, Deus é seu Pai.” (Martinho Lutero, Sermão de Natal
de 1522.)
“Maria é a Mãe de Jesus e a Mãe de todos nós, embora
fosse só Cristo quem repousou no colo dela... Se ele é nosso, deveríamos estar
na situação dele; lá onde ele está, nós também devemos estar e tudo aquilo que
ele tem deveria ser nosso. Portanto, a mãe dele também é nossa mãe..” (Martinho Lutero, Sermão de Natal de 1529.)
Uma coisa é
certa: a rejeição dos protestantes atuais à Mãe de Deus é novidade, coisa
recente...
Esses protestantes não sabem o que falam so bre a Nossa Mãe...
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