UM AMIGO ME FALOU ASSIM:
Meditando
sobre o Dogma da Imaculada Conceição, fiquei com uma dúvida e gostaria
de contar com sua ajuda para esclarecê-la: 1) Sempre acreditei que
devemos ter adoração pela Ssma. Trindade e veneração
pelos santos, pedindo sua intercessão junto a Deus e tendo sua vida
como exemplo. 2) Sempre acreditei, também, que não existiria nenhuma
hierarquia entre Nossa Senhora e os demais santos, pois todos foram
pessoas humanas que colocaram voluntariamente suas vidas a serviço de
Deus. 3) Mas, se Nossa Senhora nasceu pré-destinada a ser a Mãe de Deus e
portanto imaculada, sem o pecado original, a sua adesão ao Plano de
Salvação de Deus já não seria um fato consumado? Ela poderia dizer
“não”, e outra virgem de Israel, da casa de Davi, ser escolhida em seu lugar, para cumprir as Escrituras?
Dos três tópicos que você colocou, parece que apenas o último exprime
sua dúvida, mas acho importante comentar algo sobre os outros também.
Sim, o culto que prestamos a Nossa Senhora e aos Santos é diferente do
culto prestado a Deus. Somente a Deus adoramos como nosso Senhor,
Criador e Salvador, única fonte de todo Bem e toda Graça. Os santos são
venerados e invocados na medida em que isso favorece
nossa comunhão com Deus e com toda a Igreja, cuja união é desejo de
Deus (Jo 17, 21-23). Diz a Lumen Gentium, citada no Catecismo da Igreja
Católica: “Veneramos a memória dos habitantes do céu não somente a
título de exemplo; fazemo-lo ainda mais para corroborar a união de toda a
Igreja no Espírito, pelo exercício da caridade fraterna. Pois assim
como a comunhão entre os cristãos da terra nos aproxima de Cristo, da
mesma forma o consórcio com os santos nos une a Cristo, do qual como de
sua fonte e cabeça promana toda a graça e a vida do próprio Povo de
Deus.” (nº 957)
O Catecismo cita também São Policarpo, mártir do primeiro século: “Nós
adoramos Cristo qual Filho de Deus. Quanto aos mártires, os amamos quais
discípulos e imitadores do Senhor e, o que é justo, por causa de sua
incomparável devoção pelo seu Rei e Mestre. Possamos também nós ser
companheiros e condiscípulos seus.”
São Policarpo de Esmirna foi discípulo direto dos apóstolos, e essa
citação é um exemplo, entre outros, de que o culto aos santos já existia
na Igreja primitiva. Não é uma “inovação” do Catolicismo Romano, como
insinuam os protestantes. Ao contrário, foram estes que inovaram ao
suprimir todas essas coisas.
Não é tanto para você que digo isto, mas para aproveitar a oportunidade
de dar resposta a outros questionamentos que tenho recebido, sobre as
acusações que os protestantes nos fazem. Aliás, também a Bíblia
recomenda o culto à memória dos santos, como por exemplo em Hebreus 13, 7
e Colossenses 1, 12.
Quanto ao nº 2: existe, sim, uma “hierarquia” entre Nossa Senhora e os
demais Santos, porque ela exerceu um papel especial e único na história
da Salvação. Sua união com Deus foi mais perfeita do que a de qualquer
outro ser humano, por ter ela formado em seu seio e dado à luz o próprio
Deus. Assim, ela participou diretamente no Mistério da Redenção, e, por
isso mesmo, foi preservada do pecado desde a concepção, gozando
antecipadamente da redenção conquistada por Jesus, e participando,
também antecipadamente, em corpo e alma, de sua glória no Céu. Nesses
aspectos ela se distingue dos demais santos.
A
glória de Maria, como a de todos os santos, decorre exclusivamente dos
méritos de Cristo, mas foi este mesmo quem quis elevá-la a essa posição
privilegiada, para o bem da Igreja, cuja maternidade lhe conferiu do
alto da cruz (Jo 19, 26-27).
Assim como no caso dos santos, também o culto que a Igreja presta a
Maria, longe de tirar o valor da adoração exclusiva devida a Deus, antes
a favorece, e por isso é válido e útil.
Quanto ao consentimento (adesão) de Maria ao plano de Salvação (nº 3):
de fato, ela foi escolhida por Deus desde toda a eternidade, e já
preparada desde a concepção para essa missão. Diz o Catecismo: “Para ser
a Mãe do Salvador, Maria “foi enriquecida por Deus com dons dignos para
tamanha função”. No momento da Anunciação o anjo Gabriel a saúda como
“cheia de graça”. Efetivamente, para poder dar o assentimento livre da
sua fé ao anúncio da sua vocação, era preciso que ela estivesse
totalmente sob a moção da graça de Deus.” (nº 490).
O “sim” de Maria, portanto, é fruto da graça de Deus que nela habitava,
como de resto o são todos os atos de virtude praticados pelos santos ou
por qualquer um de nós. “Sem mim, nada podeis fazer”, diz Jesus. Sempre
que fazemos o bem, é pela graça de Deus que o fazemos.
Mas isso não anula a nossa liberdade. Podemos dizer “não” à graça, se
assim o desejarmos, e muitos o fazem. Maria era livre para dizer “não”.
Mas Deus, que conhece tudo, naturalmente já sabia que ela diria “sim”,
embora não a tenha forçado a isso. Por isso a escolheu entre todas as
mulheres e a cercou de graças especiais. Se ela fosse dizer “não”, Ele
não a teria escolhido.
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